quinta-feira, junho 14, 2007

Os Clássicos na Literatura Portuguesa (1)

Eça de Queirós, A Cidade e as Serras.
pp. 147-48:

Mirando, à vela de sebo, o copo grosso que ele orlava de leve espuma rósea, o meu Príncipe, com um resplendor de optimismo na face, citou Virgílio:
Quo te carmina dicam, Rethica? Quem dignamente te cantará, vinho amável destas serras?
Eu, que não gosto que me avantagem em saber clássico, espanejei logo também o meu Virgílio, louvando as doçuras da vida rural:
Hanc olim veteres vitam coluere Sabini... Assim viveram os velhos Sabinos. Assim Rómulo, e Remo... Assim cresceu a valente Etrúria. Assim Roma se tomou a maravilha do mundo!
E imóvel, com a mão agarrada à infusa, o Melchior arregalava para nós os olhos em infinito assombro e religiosa reverência.


p.161:

Eis a Imprensa!... Mas nada de «Figaro», ou da horrenda «Dois Mundos»! jornais de agricultura! Para aprender como se produzem as risonhas messes, e sob que signo se casa a vinha ao olmo, e que cuidados necessita a abelha provida... Quid faciat laetas segetes... De resto para esta nobre educação, já me bastavam as Geórgicas, que tu ignoras!
Eu ri:
— Alto lá! Nos quoque gens sumus et nostrum Virgilium sabemus! Mas o meu novíssimo amigo, debruçado da janela, batia as palmas — como Catão para chamar os servos, na Roma simples.

Sem comentários: