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quarta-feira, janeiro 13, 2010
sexta-feira, novembro 06, 2009
Vestígios Arqueológicos da Época Romana em Alcácer do Sal
«Um conjunto de tanques, cerâmica, uma cisterna e três esqueletos são alguns dos vestígios da época romana encontrados no local onde estava prevista a construção, já suspensa, do Centro Escolar do Torrão, concelho de Alcácer do Sal.» Ler mais aqui.
sexta-feira, outubro 02, 2009
Nero's rotating dining room discovered
"Archaeologists in Rome have unearthed what they think are the remains of a circular rotating dining room that belonged to the Emperor Nero.
They say it was probably his banqueting hall that imitated the earth's movement so he could impress his guests."
quinta-feira, outubro 01, 2009
terça-feira, setembro 29, 2009
terça-feira, agosto 18, 2009
sábado, agosto 08, 2009
quinta-feira, julho 30, 2009
quarta-feira, abril 15, 2009
segunda-feira, março 02, 2009
Escavações no centro de Gloucester
Vão começar no fim do mês trabalhos arqueológicos no centro de Gloucester, na Inglaterra, com o objectivo de descobrir a antiga muralha romana da cidade, diz a BBC.
quinta-feira, fevereiro 19, 2009
César, Virgílio, Joviano, António e o mosaico mais belo do império
Notícia do PÚBLICO.
16.02.2009
Um mosaico romano de características únicas foi encontrado em Alter do Chão. É do século IV e representa o último canto da Eneida. Em ano eleitoral, a obra de Virgílio poderá fazer pelo presidente
da câmara, Joviano Vitorino, o que, há dois mil anos, fez pelo imperador César Augusto. Vai poder ser visto a partir de 21 de Maio. Por Paulo Moura (texto) e João Henriques (fotos)
16.02.2009
Um mosaico romano de características únicas foi encontrado em Alter do Chão. É do século IV e representa o último canto da Eneida. Em ano eleitoral, a obra de Virgílio poderá fazer pelo presidente
da câmara, Joviano Vitorino, o que, há dois mil anos, fez pelo imperador César Augusto. Vai poder ser visto a partir de 21 de Maio. Por Paulo Moura (texto) e João Henriques (fotos)
Caio Júlio César Otaviano Augusto, em Roma, à semelhança de Joviano Vitorino, em Alter do Chão, precisava de consolidar o seu poder. A república tinha-se transformado em império, em 23 a.C., e, para o manter unido e submisso, era importante criar uma mitologia, uma epopeia e uma crença na natureza divina do poder imperial.
César chamou um poeta com provas dadas, Virgílio. Ou melhor: pediu a um amigo, também seu conselheiro e agente diplomático, muito rico e que gostava de apoiar as artes, um mecenas, que falasse com Virgílio. O mecenas que, não por acaso, se chamava Mecenas, pagou ao poeta para escrever uma obra melhor do que a Ilíada e a Odisseia juntas. No ano 19 a.C., o mesmo em que morreu, Virgílio compôs então a Eneida, um poema épico em 12 cantos que começa, mil anos depois, onde a Ilíada termina - a queda da cidade de Tróia.
Os primeiros seis cantos da Eneida, aliás, emulam a Odisseia, em termos de enredo e também na forma, enquanto a primeira parte da obra imita a Ilíada. Tudo junto, garantia Virgílio, superava a obra de Homero. Mas não a ignorava. Através de um sistema de referências a que os literatos chamam intertextualidade, alimentava-se dela. São comuns algumas personagens, bem como locais e eventos, para que ao leitor que conheça a Ilíada e a Odisseia esteja acessível uma fruição superior da própria Eneida.
Ao contrário do que se passa na Odisseia, protagonizada por um grego (Ulisses), o herói da obra de Virgílio é Eneias, um troiano que, a pedido da sua ilustre mãe, foge, após a destruição da cidade pelos gregos, com o objectivo de erguer uma nova cidade, uma nova Tróia, que será Roma. Eneias era um rapaz de boas famílias: o pai era Anquises, um príncipe troiano, mas a mãe era nada menos do que a deusa Vénus, que tivera com o mortal Anquises uma aventura extraconjugal. Também estava muito bem relacionado: o seu escudo foi construído por Vulcano, marido de Vénus e deus do fogo (à semelhança do que acontece com o escudo de Aquiles, na Ilíada), frequentava a casa de Plutão, o guardião dos Infernos, e aconselhava-se regularmente com Júpiter, o deus dos deuses.
Após muitas peripécias, guiado por um oráculo, Eneias chega à Itália. Aí, tem de combater o rei dos rútulos, Turno, a quem tinha sido prometida a mão de Lavínia, filha de outro líder local, Latino, rei dos latinos. Mas um oráculo aconselhara Latino a aceitar como genro um guerreiro estrangeiro. Eneias conta então com a ajuda de Latino e, protegido com o escudo forjado por Vulcano (onde estão gravados todos os acontecimentos da futura História de Roma), e aconselhado por um génio do rio Tibre, vence, numa luta corpo a corpo, o rei Turno. Tombado no chão, este implora pela sua vida, mas Eneias, após um momento de hesitação, trespassa-o com a espada. Desposa Lavínia, e o seu filho Ascânio, neto de Anquises e Vénus, será o avô dos futuros reis de Roma, que assim vêem garantida uma linhagem divina e uma História mítica, ligada aos gregos e aos povos da Itália. Virgílio cumpriu a sua missão, o imperador César Augusto ficou satisfeito.
A Casa da Medusa
Jorge António encontrou primeiro a cabeça de uma estátua de mármore representando uma rapariga. O penteado, em longas tranças puxadas para trás e apanhadas em rabo de cavalo, denuncia a moda da sua época. Basta averiguar quando se usava aquele visual feminino, e saberemos a que período pertence a estátua. Foi isto que pensou Jorge António, que é natural de Faro e arqueólogo da Câmara Municipal de Alter do Chão.
Uma coisa era certa: a presença da escultura era sinal da existência de uma casa muito rica, uma verdadeira domus. Até agora, já tinha sido descoberta a base de uma outra estátua, de Apolo, perto de uma zona de balneários termais, daquela que terá sido uma importante cidade romana e está hoje soterrada sob a vila alentejana de Alter do Chão. A cidade chamava-se Abelterium e começou a ser escavada em 1954. A estação arqueológica desenvolveu-se na área entre o campo de futebol, uns terrenos pertencentes à coudelaria, e o pavilhão desportivo que viria a ser construído. Tornou-se perfeitamente visível a zona do hipocausto, onde o ar aquecido por uma fornalha de lenha circulava por baixo do chão, a do frigidário, onde corria água fria, a zona de massagens e a latrina comunitária. No decorrer das escavações, surgiria também a necrópole, onde, a julgar pelo luxo dos objectos depositados junto a cada corpo, estariam sepultados os elementos da elite da sociedade romana da época. Tudo levava a crer, portanto, estar-se na presença de uma grande cidade - uma civitas, e não um simples vicus (povoado).
Jorge António, 38 anos, trabalha há oito na Câmara de Alter do Chão. Concluíra a licenciatura em História e Arqueologia na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e estava desempregado. Enviou um currículo para a Câmara de Alter e conseguiu o lugar. Logo nesse ano de 2001, elaborou um projecto para a Estação Arqueológica de Ferragial d'El Rei, que só viria a ser aprovado em 2004. Foi nessa altura, com alguns apoios financeiros, que se iniciaram os trabalhos.
No seu Gabinete de Arqueologia, instalado em duas salas do edifício do Cineteatro de Alter do Chão, Jorge armazena, organiza e estuda os achados dos últimos anos, distribuídos por caixas rotuladas - "Fragmentos de estuque", "Elementos de adorno", "Cerâmica comum", "Moeda", "Vidro", "Aplicações para mobiliário", "Têxteis", "Lazer", "Iluminação doméstica"... Sobre uma mesa, o esqueleto quase completo de um homem, sepultado há cerca de 1500 anos. Tinha 1m e 62 cm de altura, entre 40 e 49 anos à data da morte, e era rico. É o que se sabe sobre ele.
Com estes elementos, e mais alguns fragmentos de estátuas, de frescos, de paredes, Jorge António ia imaginando a cidade que existiu naquele lugar, e que, a jugar pelos vestígios, nunca foi propriamente abandonada, até hoje. Terá havido uma continuidade de ocupação, desde as povoações pré-romanas, as visigóticas, árabes, cristãs, até ao castelo, construído em 1349 por D. Pedro, e à actual vila de Alter do Chão.
Mas foi há um ano e meio que fez a grande descoberta.
O mosaico
Perto do local onde encontrara a cabeça feminina, em mármore, viu surgir a figura de Eneias, composta em minúsculas tesselas de calcário colorido e outras de pasta vítrea, azuis, verdes e amarelas. Foi alargando a área exposta e trouxe à luz o imenso mosaico, de 53 metros quadrados, constituído por uma moldura geométrica e uma zona figurativa de inédito esplendor. Eneias, com o seu penacho característico, quebrado por ter sido atingido por uma lança. Dos dois lados do painel, frente a frente, guerreiros gregos e frígios, definidos pelos respectivos capacetes. Entre as duas hostes, um medalhão com a figura da Medusa. Ao centro do painel, prostrado aos pés de Eneias, o rei Turno, implorando pela sua vida. Em baixo, à direita, a figura de Vulcano, cuspindo fogo, e à esquerda a do génio do Tibre, de cujo jarro verte a água do rio, representada em tesselas de pasta vítrea azul e verde.
"A cena representa o último canto da Eneida", explica ao P2 Teresa Caetano, investigadora do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa e da Associação de Investigação e Estudo do Mosaico Antigo e da Associação Portuguesa para o Estudo e Conservação do Mosaico Antigo. "Turno está a pedir a Eneias que lhe salve a vida", diz a especialista, que já está a estudar o achado de Alter do Chão. "Há o deus Tibre, representado por um génio do rio, apoiado num vaso que deita água. Do outro lado está Vulcano, amigo da mãe de Eneias, que era Vénus, secando o rio, afrontando o génio do Tibre..."
Teresa Caetano nunca tinha visto um mosaico como este. Não há, no país, nem na península, nem talvez no mundo, mais nenhum desta qualidade e neste estado de conservação. O estudo, que vai durar, pelo menos, até ao final deste ano, ainda está no início. Mas já é possível tirar algumas conclusões: o mosaico é do século IV, do império romano tardio, e pertencia a uma casa muito rica. Naquela altura, como reacção ao cristianismo que alastrava, tornaram-se moda, entre os romanos não-cristãos, os mosaicos com motivos da Ilíada, Odisseia ou Eneida. Os homens ricos e influentes do mundo romano faziam questão de ostentar uma profunda cultura clássica, e uma ligação aos valores pagãos, que consideravam superiores aos do cristianismo. Era uma demonstração de status e poder.
Nada se sabe sobre o homem que mandou construir o mosaico de Abelterium, excepto que era muito rico e culto e que teria uma grande importância na cidade. O mosaico terá custado uma fortuna. Não foi feito, decerto, por um artista da região, porque não havia na península, que se saiba, uma escola com tal mestria. Mas sobre isto há várias teorias. Jorge António fala de artistas itinerantes que iam de casa em casa, com um catálogo de imagens. Teresa Caetano imagina uma espécie de "multinacional" da arte do mosaico, que teria "sucursais" em vários pontos do império. As próprias tesselas, que alguns historiadores pensavam serem feitas com materiais de cada local, parece afinal que eram produzidas numa mesma "fábrica", e transportadas de barco para as várias regiões. Os despojos de um navio, carregado de tesselas coloridas, naufragado ao largo das Berlengas, vieram confirmar esta teoria.
A maior parte dos mosaicos eram feitos por artesãos, que copiavam as imagens concebidas pelos "designers" da "multinacional", com ligeiras adaptações. Não terá sido o caso do painel de Alter do Chão. "A riqueza de pormenores, as sombras, a musculação, a própria técnica da perspectiva" denunciam a presença de um artista. Um verdadeiro pictor imaginarius, que terá vindo expressamente de Emerita Augusta (Mérida), capital da Lusitânia, ou mesmo de Roma, para produzir a obra na casa do magnata de Abelterium. Era um mestre, que se faria pagar a peso de ouro, mas terá desenhado o que o seu cliente pediu, como era normal na época. Mais ou menos pasta vítrea, para os detalhes dos olhos, a água ou o fogo, mais uma cena mitológica, mais uma personagem, tudo isto era decidido por artista e cliente, numa discussão erudita de quem dominava os clássicos.
Jorge António não duvida de que o proprietário da sua Casa da Medusa, como baptizou a domus do mosaico, era um homem culto. Entre as várias divisões que descobriu, conta-se um escritório (tablinum), o que mostra tratar-se de um intelectual. Desta divisão sai um corredor que liga aos quartos, ao peristilo - o jardim interior - e ao triclinium, ou sala de jantar, coberto pelo mosaico da Eneida.
"A casa deveria ter pelo menos o dobro do tamanho do que está à vista e, provavelmente, um segundo andar", explica Jorge António. "Era aqui que o dono recebia os seus convidados para jantar", continua, caminhando sobre o mosaico. "Ao centro ficava a mesa e aqui, à volta, os sofás, onde as pessoas se deitavam, como é descrito no Banquete de Trimalquião, de Satiricon", prossegue o arqueólogo municipal, que considera "urgente" continuar as escavações, e preservar os tesouros encontrados, não obstante a descoberta do mosaico ter ocorrido há um ano e meio e só agora ter sido divulgada. "Era um homem muito importante. Um aristocrata, um sacerdote. Talvez um político."
A epopeia de Joviano
Está a chover. A água infiltra-se nos interstícios das tesselas, fazendo-as saltar dos seus lugares. Joviano Vitorino, 50 anos, lembra-se de vir para aqui brincar, quando era miúdo. A escola que frequentava, na aldeia da Cunheira, tinha 80 alunos. Hoje, não tem nenhum, e fechou. "Lembro-me de vir a Alter, de fatinho, fazer o exame da 4ª classe, em 1968. Brincávamos sobre as ruínas, levávamos pedras para casa." Alter do Chão tinha na altura dez mil habitantes. Hoje, tem quatro mil. "O poder central tem de começar a olhar para o interior do país de forma diferente", diz Joviano Vitorino, que é hoje presidente da Câmara de Alter do Chão, eleito pelo PSD. "A nossa riqueza arqueológica tem um potencial enorme, e a descoberta deste mosaico veio trazer outra dinâmica ao nosso projecto."
O projecto, a epopeia de Joviano Vitorino, é classificar Abelterium como Monumento Nacional, criar o Centro Interpretativo da Estação Arqueológica, no 1º andar do Cineteatro, o Clube do Património, para trazer estudantes à estação, um núcleo museológico, o Corredor do Tempo, para as crianças, e uma cobertura especial para o mosaico da Casa da Medusa. Parte deste equipamento vai ser inaugurado no próximo dia 21 de Maio. Haverá também merchandizing - t-shirts, bonés, posters com réplicas do mosaico - e ainda uma piscina descoberta, um pavilhão desportivo e um estádio.
"Tudo isto atrairá turistas e criará empregos na região", explica o autarca, que espera obter fundos governamentais para o projecto. "Precisamos de milhares de euros, e vamos passar a bola da responsabilidade."
Um grupo de dissidentes do PSD tem sido muito crítico das acções de Joviano, e ameaçou desafiá-lo, nas eleições autárquicas deste ano, talvez apoiando o candidato do PS. Mas Joviano tem agora um trunfo que crê ser imbatível: o mosaico. O timing é perfeito.
"Vai ser inaugurada a IC13, que liga Portalegre a Alcochete. Ficaremos a uma hora e meia de Lisboa", diz Joviano Vitorino. Não há razão para que o mosaico seja levado para um museu da capital. "Não deixo que ele saia. Isto tem uma importância arqueológica enorme", diz o autarca, que entretanto se tornou especialista em cultura clássica. "Só por cima do meu cadáver."
César chamou um poeta com provas dadas, Virgílio. Ou melhor: pediu a um amigo, também seu conselheiro e agente diplomático, muito rico e que gostava de apoiar as artes, um mecenas, que falasse com Virgílio. O mecenas que, não por acaso, se chamava Mecenas, pagou ao poeta para escrever uma obra melhor do que a Ilíada e a Odisseia juntas. No ano 19 a.C., o mesmo em que morreu, Virgílio compôs então a Eneida, um poema épico em 12 cantos que começa, mil anos depois, onde a Ilíada termina - a queda da cidade de Tróia.
Os primeiros seis cantos da Eneida, aliás, emulam a Odisseia, em termos de enredo e também na forma, enquanto a primeira parte da obra imita a Ilíada. Tudo junto, garantia Virgílio, superava a obra de Homero. Mas não a ignorava. Através de um sistema de referências a que os literatos chamam intertextualidade, alimentava-se dela. São comuns algumas personagens, bem como locais e eventos, para que ao leitor que conheça a Ilíada e a Odisseia esteja acessível uma fruição superior da própria Eneida.
Ao contrário do que se passa na Odisseia, protagonizada por um grego (Ulisses), o herói da obra de Virgílio é Eneias, um troiano que, a pedido da sua ilustre mãe, foge, após a destruição da cidade pelos gregos, com o objectivo de erguer uma nova cidade, uma nova Tróia, que será Roma. Eneias era um rapaz de boas famílias: o pai era Anquises, um príncipe troiano, mas a mãe era nada menos do que a deusa Vénus, que tivera com o mortal Anquises uma aventura extraconjugal. Também estava muito bem relacionado: o seu escudo foi construído por Vulcano, marido de Vénus e deus do fogo (à semelhança do que acontece com o escudo de Aquiles, na Ilíada), frequentava a casa de Plutão, o guardião dos Infernos, e aconselhava-se regularmente com Júpiter, o deus dos deuses.
Após muitas peripécias, guiado por um oráculo, Eneias chega à Itália. Aí, tem de combater o rei dos rútulos, Turno, a quem tinha sido prometida a mão de Lavínia, filha de outro líder local, Latino, rei dos latinos. Mas um oráculo aconselhara Latino a aceitar como genro um guerreiro estrangeiro. Eneias conta então com a ajuda de Latino e, protegido com o escudo forjado por Vulcano (onde estão gravados todos os acontecimentos da futura História de Roma), e aconselhado por um génio do rio Tibre, vence, numa luta corpo a corpo, o rei Turno. Tombado no chão, este implora pela sua vida, mas Eneias, após um momento de hesitação, trespassa-o com a espada. Desposa Lavínia, e o seu filho Ascânio, neto de Anquises e Vénus, será o avô dos futuros reis de Roma, que assim vêem garantida uma linhagem divina e uma História mítica, ligada aos gregos e aos povos da Itália. Virgílio cumpriu a sua missão, o imperador César Augusto ficou satisfeito.
A Casa da Medusa
Jorge António encontrou primeiro a cabeça de uma estátua de mármore representando uma rapariga. O penteado, em longas tranças puxadas para trás e apanhadas em rabo de cavalo, denuncia a moda da sua época. Basta averiguar quando se usava aquele visual feminino, e saberemos a que período pertence a estátua. Foi isto que pensou Jorge António, que é natural de Faro e arqueólogo da Câmara Municipal de Alter do Chão.
Uma coisa era certa: a presença da escultura era sinal da existência de uma casa muito rica, uma verdadeira domus. Até agora, já tinha sido descoberta a base de uma outra estátua, de Apolo, perto de uma zona de balneários termais, daquela que terá sido uma importante cidade romana e está hoje soterrada sob a vila alentejana de Alter do Chão. A cidade chamava-se Abelterium e começou a ser escavada em 1954. A estação arqueológica desenvolveu-se na área entre o campo de futebol, uns terrenos pertencentes à coudelaria, e o pavilhão desportivo que viria a ser construído. Tornou-se perfeitamente visível a zona do hipocausto, onde o ar aquecido por uma fornalha de lenha circulava por baixo do chão, a do frigidário, onde corria água fria, a zona de massagens e a latrina comunitária. No decorrer das escavações, surgiria também a necrópole, onde, a julgar pelo luxo dos objectos depositados junto a cada corpo, estariam sepultados os elementos da elite da sociedade romana da época. Tudo levava a crer, portanto, estar-se na presença de uma grande cidade - uma civitas, e não um simples vicus (povoado).
Jorge António, 38 anos, trabalha há oito na Câmara de Alter do Chão. Concluíra a licenciatura em História e Arqueologia na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e estava desempregado. Enviou um currículo para a Câmara de Alter e conseguiu o lugar. Logo nesse ano de 2001, elaborou um projecto para a Estação Arqueológica de Ferragial d'El Rei, que só viria a ser aprovado em 2004. Foi nessa altura, com alguns apoios financeiros, que se iniciaram os trabalhos.
No seu Gabinete de Arqueologia, instalado em duas salas do edifício do Cineteatro de Alter do Chão, Jorge armazena, organiza e estuda os achados dos últimos anos, distribuídos por caixas rotuladas - "Fragmentos de estuque", "Elementos de adorno", "Cerâmica comum", "Moeda", "Vidro", "Aplicações para mobiliário", "Têxteis", "Lazer", "Iluminação doméstica"... Sobre uma mesa, o esqueleto quase completo de um homem, sepultado há cerca de 1500 anos. Tinha 1m e 62 cm de altura, entre 40 e 49 anos à data da morte, e era rico. É o que se sabe sobre ele.
Com estes elementos, e mais alguns fragmentos de estátuas, de frescos, de paredes, Jorge António ia imaginando a cidade que existiu naquele lugar, e que, a jugar pelos vestígios, nunca foi propriamente abandonada, até hoje. Terá havido uma continuidade de ocupação, desde as povoações pré-romanas, as visigóticas, árabes, cristãs, até ao castelo, construído em 1349 por D. Pedro, e à actual vila de Alter do Chão.
Mas foi há um ano e meio que fez a grande descoberta.
O mosaico
Perto do local onde encontrara a cabeça feminina, em mármore, viu surgir a figura de Eneias, composta em minúsculas tesselas de calcário colorido e outras de pasta vítrea, azuis, verdes e amarelas. Foi alargando a área exposta e trouxe à luz o imenso mosaico, de 53 metros quadrados, constituído por uma moldura geométrica e uma zona figurativa de inédito esplendor. Eneias, com o seu penacho característico, quebrado por ter sido atingido por uma lança. Dos dois lados do painel, frente a frente, guerreiros gregos e frígios, definidos pelos respectivos capacetes. Entre as duas hostes, um medalhão com a figura da Medusa. Ao centro do painel, prostrado aos pés de Eneias, o rei Turno, implorando pela sua vida. Em baixo, à direita, a figura de Vulcano, cuspindo fogo, e à esquerda a do génio do Tibre, de cujo jarro verte a água do rio, representada em tesselas de pasta vítrea azul e verde.
"A cena representa o último canto da Eneida", explica ao P2 Teresa Caetano, investigadora do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa e da Associação de Investigação e Estudo do Mosaico Antigo e da Associação Portuguesa para o Estudo e Conservação do Mosaico Antigo. "Turno está a pedir a Eneias que lhe salve a vida", diz a especialista, que já está a estudar o achado de Alter do Chão. "Há o deus Tibre, representado por um génio do rio, apoiado num vaso que deita água. Do outro lado está Vulcano, amigo da mãe de Eneias, que era Vénus, secando o rio, afrontando o génio do Tibre..."
Teresa Caetano nunca tinha visto um mosaico como este. Não há, no país, nem na península, nem talvez no mundo, mais nenhum desta qualidade e neste estado de conservação. O estudo, que vai durar, pelo menos, até ao final deste ano, ainda está no início. Mas já é possível tirar algumas conclusões: o mosaico é do século IV, do império romano tardio, e pertencia a uma casa muito rica. Naquela altura, como reacção ao cristianismo que alastrava, tornaram-se moda, entre os romanos não-cristãos, os mosaicos com motivos da Ilíada, Odisseia ou Eneida. Os homens ricos e influentes do mundo romano faziam questão de ostentar uma profunda cultura clássica, e uma ligação aos valores pagãos, que consideravam superiores aos do cristianismo. Era uma demonstração de status e poder.
Nada se sabe sobre o homem que mandou construir o mosaico de Abelterium, excepto que era muito rico e culto e que teria uma grande importância na cidade. O mosaico terá custado uma fortuna. Não foi feito, decerto, por um artista da região, porque não havia na península, que se saiba, uma escola com tal mestria. Mas sobre isto há várias teorias. Jorge António fala de artistas itinerantes que iam de casa em casa, com um catálogo de imagens. Teresa Caetano imagina uma espécie de "multinacional" da arte do mosaico, que teria "sucursais" em vários pontos do império. As próprias tesselas, que alguns historiadores pensavam serem feitas com materiais de cada local, parece afinal que eram produzidas numa mesma "fábrica", e transportadas de barco para as várias regiões. Os despojos de um navio, carregado de tesselas coloridas, naufragado ao largo das Berlengas, vieram confirmar esta teoria.
A maior parte dos mosaicos eram feitos por artesãos, que copiavam as imagens concebidas pelos "designers" da "multinacional", com ligeiras adaptações. Não terá sido o caso do painel de Alter do Chão. "A riqueza de pormenores, as sombras, a musculação, a própria técnica da perspectiva" denunciam a presença de um artista. Um verdadeiro pictor imaginarius, que terá vindo expressamente de Emerita Augusta (Mérida), capital da Lusitânia, ou mesmo de Roma, para produzir a obra na casa do magnata de Abelterium. Era um mestre, que se faria pagar a peso de ouro, mas terá desenhado o que o seu cliente pediu, como era normal na época. Mais ou menos pasta vítrea, para os detalhes dos olhos, a água ou o fogo, mais uma cena mitológica, mais uma personagem, tudo isto era decidido por artista e cliente, numa discussão erudita de quem dominava os clássicos.
Jorge António não duvida de que o proprietário da sua Casa da Medusa, como baptizou a domus do mosaico, era um homem culto. Entre as várias divisões que descobriu, conta-se um escritório (tablinum), o que mostra tratar-se de um intelectual. Desta divisão sai um corredor que liga aos quartos, ao peristilo - o jardim interior - e ao triclinium, ou sala de jantar, coberto pelo mosaico da Eneida.
"A casa deveria ter pelo menos o dobro do tamanho do que está à vista e, provavelmente, um segundo andar", explica Jorge António. "Era aqui que o dono recebia os seus convidados para jantar", continua, caminhando sobre o mosaico. "Ao centro ficava a mesa e aqui, à volta, os sofás, onde as pessoas se deitavam, como é descrito no Banquete de Trimalquião, de Satiricon", prossegue o arqueólogo municipal, que considera "urgente" continuar as escavações, e preservar os tesouros encontrados, não obstante a descoberta do mosaico ter ocorrido há um ano e meio e só agora ter sido divulgada. "Era um homem muito importante. Um aristocrata, um sacerdote. Talvez um político."
A epopeia de Joviano
Está a chover. A água infiltra-se nos interstícios das tesselas, fazendo-as saltar dos seus lugares. Joviano Vitorino, 50 anos, lembra-se de vir para aqui brincar, quando era miúdo. A escola que frequentava, na aldeia da Cunheira, tinha 80 alunos. Hoje, não tem nenhum, e fechou. "Lembro-me de vir a Alter, de fatinho, fazer o exame da 4ª classe, em 1968. Brincávamos sobre as ruínas, levávamos pedras para casa." Alter do Chão tinha na altura dez mil habitantes. Hoje, tem quatro mil. "O poder central tem de começar a olhar para o interior do país de forma diferente", diz Joviano Vitorino, que é hoje presidente da Câmara de Alter do Chão, eleito pelo PSD. "A nossa riqueza arqueológica tem um potencial enorme, e a descoberta deste mosaico veio trazer outra dinâmica ao nosso projecto."
O projecto, a epopeia de Joviano Vitorino, é classificar Abelterium como Monumento Nacional, criar o Centro Interpretativo da Estação Arqueológica, no 1º andar do Cineteatro, o Clube do Património, para trazer estudantes à estação, um núcleo museológico, o Corredor do Tempo, para as crianças, e uma cobertura especial para o mosaico da Casa da Medusa. Parte deste equipamento vai ser inaugurado no próximo dia 21 de Maio. Haverá também merchandizing - t-shirts, bonés, posters com réplicas do mosaico - e ainda uma piscina descoberta, um pavilhão desportivo e um estádio.
"Tudo isto atrairá turistas e criará empregos na região", explica o autarca, que espera obter fundos governamentais para o projecto. "Precisamos de milhares de euros, e vamos passar a bola da responsabilidade."
Um grupo de dissidentes do PSD tem sido muito crítico das acções de Joviano, e ameaçou desafiá-lo, nas eleições autárquicas deste ano, talvez apoiando o candidato do PS. Mas Joviano tem agora um trunfo que crê ser imbatível: o mosaico. O timing é perfeito.
"Vai ser inaugurada a IC13, que liga Portalegre a Alcochete. Ficaremos a uma hora e meia de Lisboa", diz Joviano Vitorino. Não há razão para que o mosaico seja levado para um museu da capital. "Não deixo que ele saia. Isto tem uma importância arqueológica enorme", diz o autarca, que entretanto se tornou especialista em cultura clássica. "Só por cima do meu cadáver."
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Arte romana,
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Eneida,
Vergílio
segunda-feira, janeiro 12, 2009
Monumento funerário do século VI d.C. em Mértola (Complemento)
«Foi descoberto, em Mértola, um mausoléu do século VI d.C. "único no Ocidente", que terá servido para sepultar "pessoas importantes" de origem grega. Esta descoberta arqueológica testemunha a presença de orientais em Mértola antes da islamização. Foi encontrado durante as obras de remodelação do Eixo Comercial de Mértola, na Rua Afonso Costa, junto à GNR.
Trata-se de "um mausoléu fantástico, absolutamente fora de série" e "o único edifício mortuário do género achado em todo o Ocidente do Mediterrâneo, onde, até agora, não há nenhum parecido", afirma Cláudio Torres.»
Continuação aqui >>>>
domingo, janeiro 04, 2009
Monumento funerário do século VI d.C. em Mértola
A notícia já tem algumas semanas, mas antes tarde que nunca. Uma importantíssima descoberta arquológica em Mértola: um monumento funerário do século VI d.C. Notícia áudio e texto na TSF.
terça-feira, dezembro 23, 2008
Descoberto maior conjunto de moedas de ouro do período Bizantino
"Arqueólogos britânicos descobriram 264 moedas de ouro com 1300 anos, nas antigas muralhas de Jerusalém, debaixo de um parque de estacionamento, revelaram hoje as Autoridades Israelitas", diz a Reuters, citada pelo Público.
sexta-feira, outubro 17, 2008
Túmulo de gladiador
Reproduzo a notícia da Discovery:
Italian archaeologists have discovered the tomb of the ancient Roman hero believed to have inspired Russell Crowe's character in the hit movie "Gladiator," Rome's officials announced on Thursday at a press conference.
Marble beams and columns, carvings and friezes first emerged from the Roman soil during construction work to build a residential complex in Saxa Rubra, not far from the headquarters of Rai, Italy's state-run television station.
According to Cristiano Ranieri, an archaeologist who led the excavation at the site, the huge fragments belonged to a monumental marble tomb built on the banks of the Tiber River at the end of the second century A.D.
"This is the most important ancient Roman monument to come to light for 20 or 30 years," Daniela Rossi, an archaeologist for the city of Rome, told reporters.
segunda-feira, setembro 29, 2008
Villa romana de Santo André de Almoçageme
O Público de hoje traz dois artigos sobre a villa romana de Almoçageme, cujas escavações agora recomeçam, e para onde está em estudo um projecto de musealização.
«Enquanto os técnicos desenterram o que resta da villa, um projecto de musealização poderá levar à reconstrução de parte das ruínas na ponta mais ocidental do império romano.Parece um puzzle para gente crescida. Os pequenos cubos cerâmicos vão sendo limpos com paciência. As tesselas, como se chamam as pedrinhas de várias cores, são depois colocadas nos espaços vazios do mosaico, que os técnicos do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas (MASMO) estão a redescobrir na villa romana de Santo André de Almoçageme.A villa romana de Santo André está classificada de interesse público. As ruínas à beira da estrada que liga Almoçageme ao Rodízio (Praia Grande) foram descobertas em 1905. A importância dos vestígios foi desde logo evidente, mas só em 1985, quando o proprietário do terreno pretendia construir uma moradia, o espaço foi intervencionado de forma exaustiva. (...)»
sábado, setembro 27, 2008
Escrita do Sudoeste
O caderno P2 do Público de ontem, dia 26, traz um extenso artigo sobre a escrita do Sudoeste, a propósito de um achado arqueológico efectuado por investigadores da Faculdade de Letras da UL.
Texto completo aqui.
O tesouro chegou-lhe no dia 5 de Setembro, quando encontraram ali, numa das ruas romanas do povoado arqueológico, uma estela funerária, depositada à sua espera estes anos todos, com uma das inscrições mais completas e bem conservadas da chamada escrita do Sudoeste.
"É maravilhosa!", soltou José Antonio Correa, catedrático de filologia latina da Universidade de Sevilha, um dos maiores especialistas em escrita do Sudoeste (a par com o alemão Jürgen Untermann), quando, na quarta-feira, se levantou o pano negro que cobria a nova estela funerária encontrada no sítio de Mesas do Castelinho. "Não vou dizer que é a melhor", disse o especialista em conversa com o P2, na apresentação que decorreu no Museu da Escrita do Sudoeste, criado pela Câmara Municipal de Almodôvar em Outubro do ano passado.
Texto completo aqui.
sexta-feira, setembro 26, 2008
Museu Virtual de Herculano
Reproduzo a notícia da BBC:
Herculaneum task
They may seem unlikely early adopters, but museum curators have been some of the keenest to employ technology to blow dust of their show-cases and bring their exhibits to life. So much so, in fact, that there is now a museum dedicated to ancient history where the technology doesn’t just supplement the exhibits, but has replaced them entirely.
Wealth has always liked to dip its toes in the Mediterranean. The Italian coast at Amalfi near Naples is pretty comfortably off, and two thousand years ago well-to-do Romans trailed their togas in the sand at nearby Herculaneum. Until one night in 79 AD.
The eruption of Mount Vesuvius encased the town in scalding ash, killing those who tried to flee and preserving some of the finest examples of private Roman villas under 25 metres of debris.
Herculaneum’s Virtual Museum of Archeology (MAV) opened this summer. It creators’ aim was to digitally repair the damage wrought by Vesuvius and imagine what the living town was like.
Walter Ferrara, Head Curator, MAV: "We have so many archaeological realities nearby. 70 metres from here we have ancient Ercolano (Herculaneum). You can see only stones and some buildings how they are now. You cannot see them how they were.
"You can read about them. You can look at pictures, but it is not the same as seeing these [new] reconstructions, that are immersive and have a lot of appeal."
MosaicActually, the Romans are a very suitable subject for a digital museum; you only have to look at their mosaics to see that they were great proponents of the pixel. And one of the things that separate them from the Greeks is their technological prowess. If the Romans were around today, they’d probably watch Click.
But the developers here have been careful not to let the museum’s message become too eclipsed by 21st century technology.
Gaetano Capasso, Concept Developer for MAV: "The big difference with our museum is that the technology is transparent, invisible. For us this is the aim of technology.
"[I remember a German poem which says] when snow falls on a bell it doesn’t make it ring. And it is the same with our technology. You guess this presence, but you don’t see it. Technology has to prompt curiosity, but remain discrete.”
The MAV is unique among archaeological museums in exhibiting absolutely no ancient artefacts at all: no real Roman busts, no original murals. But there are also no alarms, no tetchy guards and no 'don’t touch' signs.
What’s nice about this museum is just how tactile it is. You can just wipe your hand across condensation to reveal the image underneath.
A camera tracking trick ofdisappearing dust is used a number of times, giving visitors a feel for the thrill of archaeological discovery. There are some other nice touches, including the fact that the museum is unapologetically educational.
Vesuvius will continue to sleep off its historic night of mayhem, so the main threat to Herculaneum, now that much of it has been excavated, is from us. If visitors to the town can be persuaded to come to the virtual museum rather than plodding around the ruins then it might go someway toward preserving them for the future.
Caterina Cozzalino, Archaeologist: "This is also the best way to make these towns live in the future, because otherwise I think they will be destroyed again and not by Vesuvius, but by people.”
As well worn as the monuments the tourists clamber over, is the notion that Italy’s heritage is so rich the country can barely afford to preserve it. The budget for Italy’s Culture Ministry for the next three years has just been slashed by 1.3 billion Euros.
With this virtual museum pulling in paying customers, and lightening the tourist load at the excavation, it might act as a model for more of Italy’s fragile archaeological sites.
quarta-feira, setembro 24, 2008
Criptopórtico
Está aberto ao público este fim-de-semana (de sexta a domingo) o Criptopórtico romano da Rua da Conceição, na Baixa de Lisboa.
Galerias Romanas da Rua da Prata
Desde a data da sua descoberta na sequência do grande terramoto de 1755, esta estrutura romana foi sendo alvo de múltiplas interpretações relativamente à sua função original, sendo hoje as teses quase unânimes em identificá-lo como sendo um criptopórtico.
As suas características construtivas, tipologia e materiais associados sugerem uma construção da época de Augusto, datada entre o século I a.C e o século I d.C. e contemporânea de outros grandes edifícios públicos da cidade de Olisipo.
A Descoberta
Em 1771 durante a reconstrução da cidade de Lisboa, na sequência do grande Terramoto de 1755, surgiram pela primeira vez notícias da existência de um vasto conjunto de Galerias Romanas no subsolo da Baixa. A incipiente noção de património de então, levaria a que apenas uma inscrição romana dedicada a Esculápio (Deus da Medicina) fosse salvaguardada. O edifício romano, constatada a sua grande robustez, serviria de alicerce aos prédios pombalinos.
Em 1859, obras de saneamento permitiram, pela única vez, observar restos das construções romanas que se erguiam sobre as Galerias. Foi então feito o levantamento exaustivo das ruínas, um dos trabalhos arqueológicos pioneiros na cidade de Lisboa, pela mão de José Valentim de Freitas. Visitas esporádicas, com finalidades jornalísticas e de investigação, iniciaram-se em 1909, sendo as Galerias à data conhecidas por "Conservas de Água da Rua da Prata" por serem utilizadas pela população como cisterna.
Abririam ao público com regularidade a partir dos anos 80 época em que foi possível à Câmara Municipal de Lisboa criar condições restritas de acessibilidade ao monumento. Actualmente são visitáveis uma vez por ano pois encontram-se com um nível de água elevado cuja bombagem é um processo moroso e que levantaria problemas de conservação do próprio edifício e dos edifícios pombalinos anexos se retirada mais amiúde.
A Função
A arquitectura e as técnicas de construção destas Galerias sugerem tratar-se de um monumento da época dos Imperadores Júlio-Cláudios (primeira metade do séc. I d.C.), contemporâneo de outros edifícios públicos da cidade romana de Olisipo.
Os últimos trabalhos arqueológicos do Museu da Cidade revelaram que as Galerias foram erguidas sobre uma muito espessa placa artificial de rija argamassa romana (opus caementicium- "antepassado remoto do betão") colocada sobre areia. A análise da arquitectura revelou também o emprego de proporções rigorosas no tamanho dos arcos, como se esperaria numa obra de época imperial romana.
As Galerias Romanas têm sido alvo de diversas interpretações, de Termas a Forúm Municipal, desde a sua descoberta. Conhecendo-se hoje melhor o seu entorno em época romana, ligado às actividades portuárias e comerciais, as propostas mais recentes indicam tratar-se de um «criptopórtico», erguido para suportar outras edificações de grande dimensão.
Os «criptopórticos» eram construções abobadas, empregues com alguma frequência pelos romanos em terrenos instáveis ou de topografia irregular para criar uma plataforma de suporte a outras edificações, normalmente públicas.
O achado sobre as Galerias da inscrição dedicada ao Deus Esculápio por dois sacerdotes do culto imperial, em seu nome e no do Município de Olisipo, parece confirmar o carácter público do edifício.
O que se pode ver
O acesso à totalidade do monumento foi truncado pela construção, desde o séc. XVIII, dos colectores de esgoto da cidade. A parte visitável é constituída por uma rede de galerias perpendiculares, de diferentes alturas, onde se destacam:
•Pequenos compartimentos (celas) dispostos lateralmente a algumas das galerias, que poderão ter sido utilizados na época romana como áreas de armazenamento
• Arcos em cuidada cantaria de pedra almofadada, técnica típica dos inícios da época imperial romana
• Abóbadas, onde são visíveis as marcas das tábuas de madeira que serviram para a sua construção e onde se pode observar várias aberturas circulares que serviram bocas de poço a partir de data desconhecida
• "Galeria das Nascentes", também chamada "dos Olhos de Água", que ostenta a fractura que divide em dois a parte hoje visitável do monumento. Nesta fenda brota a água proveniente do lençol freático e que irrompe inundando toda a área das galerias.
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