segunda-feira, junho 18, 2007

Estudar os Clássicos (2): Latim

O segundo artigo que dedico ao estudo das línguas e literaturas clássicas e seus materiais tem como tema os dicionários de Latim. Falarei de gramáticas e de literatura latina noutros textos.

Os dicionários de Latim disponíveis em português são, sem excepção, feitos a partir de outros dicionários, o que significa que não só lhes copiam os erros, como também, por alta recreação, acrescentam outros.
1.º O Novissimo Dicionário Latino-Portuguez de F. R. dos Santos Saraiva é uma obra monumental, mas extraordinariamente desactualizada (data do início do século XX). Inclui palavras latinas que não existem em nenhum texto.
2.º O Dicionário Latino-Português de Francisco Torrinha é um clássico. Feito, sobretudo, a partir do dicionário de C. T. Lewis e C. Short (ele mesmo “Based on Andrews's edition of Freund's Latin Dictionary”), não alarga os significados muito além da época clássica, mas não era esse o seu propósito. É um bom dicionário.
3.º Conheço mal o Novo Dicionário Latino-Português de Francisco António de Sousa (edição actualizada e aumentada por José Lello e Edgard Lello, Lello & Irmão Editores, 1992), mas parece-me igualmente um dicionário bastante aceitável.
4.º O Dicionário de Latim-Português1 de António Gomes Ferreira foi-nos imposto pela máquina do “marketing” da Porto Editora. Sucessivas reimpressões nunca significaram melhorias na sua qualidade, que ficou intocável até há anos (2001, penso), quando o Departamento de Dicionários resolveu informatizar e embelezar as páginas do dicionário, retirando-lhe a autoria. As aplicações informáticas e o desdobramento de algumas entradas resultaram numa profunda confusão e em vários vocábulos fora da ordem alfabética. As quantidades trocadas, as escolhas editoriais não sistemáticas, etimologias absurdas, erros ortográficos, classificações gramaticais erradas e errada atribuição de autoria dos exemplos são alguns dos erros mais frequentes. Por vezes, são meras gralhas, mas em tratando-se de um dicionário, é no mínimo estranho que não seja um produto de inteira confiança. A segunda edição deste dicionário está, portanto, longe de ser aceitável. Curiosamente, é o único que se encontra disponível no mercado.
A Porto Editora prepara agora uma terceira edição totalmente revista e corrigida.

1 A pré-visualização disponível aqui não é a da segunda edição, mas da terceira, por sair e por retocar.

1 comentário:

Anónimo disse...

É de estarrecer que não se confira crédito à obra de Ernesto Faria: Dicionário Escolar Latino-Português. A edição de que tenho exemplar é a sétima, de 1994.

Hiro Kumasaka
Brasília, Brasil