A influência latina na língua árabe clássica (e moderna padrão) parece-me estar centrada sobretudo no léxico da administração e da guerra. No entanto também se encontra léxico de origem latina em instrumentos de utilização quotidiana, como é o caso de فرن [furn], "forno", e não parece haver grandes dúvidas quanto à etimologia latina: furnus.
sexta-feira, fevereiro 23, 2007
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
Cursos de Verão de Grego em Edimburgo
Chega-me a notícia da realização de cursos de Verão de grego clássico, bíblico, bizantino e moderno, na Universidade de Edimburgo. Aqui fica o endereço:
http://www.summer-school.hss.ed.ac.uk/greek/
domingo, fevereiro 11, 2007
Expressões - "Quimera"
Vejamos o que dizem Homero e Hesíodo sobre a Quimera:
"Porém quando recebeu o sinal maligno de seu genro,
primeiro mandou-o matar a terrífica Quimera.
Ela é de raça divina - não pertence à dos homens:
à frente tem a forma de leão, atrás de dragão, no meio de cabra;
seu sopro é a fúria terrível do fogo ardente.
Mas Belerofonte matou-a, obedecendo aos portentos dos deuses."
Homero, Ilíada, VI, 178-183
(tradução de Frederico Lourenço, Livros Cotovia)
"Mas ela deu à luz também a Quimera, que sopra fogo invencível,
terrível, grande, rápida e violenta.
Tinha três cabeças: uma de leão de olhos ardentes,
outra de cabra e outra de serpente, de poderoso dragão
[pela frente leão, por trás dragão, no meio cabra,
com um sopro de fogo terrível e ardente].
A esta mataram-na Pégaso e o nobre Beleforonte."
Hesíodo, Teogonia, 319-325
(tradução de Ana Elias Pinheiro e José Ribeiro Ferreira, INCM)
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Quimera
sábado, fevereiro 10, 2007
Influências greco-latinas na língua árabe VII
O أُسطول [ŭsTūl] é uma frota militar, e toma a designação do grego στόλος [stólos], com o mesmo sentido. O أُ [ŭ] epentético inicial explica-se pelo facto de o árabe evitar ter sequências de duas consoantes em início de palavra. Portanto, de novo o [t] grego é transcrito por um [T] enfático, e o [o] pela vogal de timbre mais próximo. A opção por um [ū] em vez de um [ŭ] pode ser motivado pela necessidade de preservar a sílaba tónica original (o árabe clássico não tem um sistema de sílabas tónicas, prolongando apenas as sílabas longas). Desta vez, porém, o [s] grego não é transcrito pelo equivalente enfático árabe, mas pelo correspondente exacto. Não sei árabe que chegue para explicar isto, mas talvez possa dever-se ao facto de, nesse caso, ficarem duas enfáticas seguidas.
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Normas de transcrição:
[ă] - [a] breve
[ā] - [a] longo
[ĭ] - [i] breve
[ī] - [i] longo
[ŭ] - [u] breve
[ū] - [u] longo
[kh] - [χ] semelhante ao "j" espanhol
[dh] - oclusiva sonora interdental semelhante ao inglês "th" em "the"
[th] - oclusiva surda interdental semelhante ao inglês "th" em "thing"
[DH] - [dh] enfático
[TH] - [th] enfático
[T] - [t] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[S] - [s] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[q] - oclusiva surda pronunciada no fundo da garganta
[º] - consoante laringal inexistente nas línguas europeias que conheço
quinta-feira, fevereiro 08, 2007
Influências greco-latinas na língua árabe VI
O بطرق [bĭTrĭq] é uma chefia militar árabe. O nome deriva, muito provavelmente, do latim "patricius", termo que designa a classe privilegiada de Roma, por oposição aos plebeus. De novo é de notar a transcrição do [t] latino por um [T] - um [t] enfático, pronunciado como que com a boca cheia. Já não é surpresa a opção por este tipo de som para transcrever palavras gregas e latinas. O mesmo se aplica ao [q] final, recorrente na transcrição do som [k], que no entanto também existe em árabe. Já a transcrição de [p] por [b] explica-se facilmente pela ausência do som [p] em árabe. A confirmar-se a etimologia desta palavra, acerca da qual Lane (*) não tem muitas certezas, será mais uma evidência da pronúncia [k] da letra "c" em qualquer posição até uma época relativamente tardia. Não é, porém, possível ter a certeza quanto à data de entrada da palavra em árabe, uma vez que os primeiros documentos usando o alfabeto árabe e apresentando uma língua a que se pode já chamar árabe são bastante tardios, de cerca do século IV d.C.
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(*) Edward William Lane, An Arabic - English Lexicon, Beirute, 1968
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Normas de transcrição:
[ă] - [a] breve
[ā] - [a] longo
[ĭ] - [i] breve
[ī] - [i] longo
[ŭ] - [u] breve
[ū] - [u] longo
[kh] - [χ] semelhante ao "j" espanhol
[dh] - oclusiva sonora interdental semelhante ao inglês "th" em "the"
[th] - oclusiva surda interdental semelhante ao inglês "th" em "thing"
[DH] - [dh] enfático
[TH] - [th] enfático
[T] - [t] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[S] - [s] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[q] - oclusiva surda pronunciada no fundo da garganta
[º] - consoante laringal inexistente nas línguas europeias que conheço
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(*) Edward William Lane, An Arabic - English Lexicon, Beirute, 1968
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Normas de transcrição:
[ă] - [a] breve
[ā] - [a] longo
[ĭ] - [i] breve
[ī] - [i] longo
[ŭ] - [u] breve
[ū] - [u] longo
[kh] - [χ] semelhante ao "j" espanhol
[dh] - oclusiva sonora interdental semelhante ao inglês "th" em "the"
[th] - oclusiva surda interdental semelhante ao inglês "th" em "thing"
[DH] - [dh] enfático
[TH] - [th] enfático
[T] - [t] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[S] - [s] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[q] - oclusiva surda pronunciada no fundo da garganta
[º] - consoante laringal inexistente nas línguas europeias que conheço
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
Influências greco-latinas na língua árabe V
O جاثليق [jāthālīq] é o primaz cristão nos países árabes. A pronúncia moderna não ajuda a identificar, mas a este substantivo subjaz o grego καθολικός [katholikós]. Na verdade, o ج [jim] tinha o som [g], que de resto se conserva nas falas egípcias modernas. Portanto, a pronúncia original seria algo como [gathaliq]. De notar a transcrição do κ grego para dois sons árabes: o antigo [g] e o [q]. Os meu incipientes conhecimentos de linguística árabe não me permitem supor qualquer hipótese fundamentada, mas a acentuação grega na última sílaba poderia ter levado a uma maior intensidade na pronúncia do último κ, suavizando o κ da primeira sílaba, o que poderá ter levado a perceber a consoante com dois sons diferentes, por parte dos ouvintes arabófonos. Repito, é apenas uma ideia. Por outro lado, a transcrição do θ (theta) por ث (tha) pode indicar que, na altura do empréstimo, a letra grega já representava um som semelhante ao θ moderno.
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Normas de transcrição:
[ă] - [a] breve
[ā] - [a] longo
[ĭ] - [i] breve
[ī] - [i] longo
[ŭ] - [u] breve
[ū] - [u] longo
[kh] - [χ] semelhante ao "j" espanhol
[dh] - oclusiva sonora interdental semelhante ao inglês "th" em "the"
[th] - oclusiva surda interdental semelhante ao inglês "th" em "thing"
[DH] - [dh] enfático
[TH] - [th] enfático
[T] - [t] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[S] - [s] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[q] - oclusiva surda pronunciada no fundo da garganta
[º] - consoante laringal inexistente nas línguas europeias que conheço
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Normas de transcrição:
[ă] - [a] breve
[ā] - [a] longo
[ĭ] - [i] breve
[ī] - [i] longo
[ŭ] - [u] breve
[ū] - [u] longo
[kh] - [χ] semelhante ao "j" espanhol
[dh] - oclusiva sonora interdental semelhante ao inglês "th" em "the"
[th] - oclusiva surda interdental semelhante ao inglês "th" em "thing"
[DH] - [dh] enfático
[TH] - [th] enfático
[T] - [t] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[S] - [s] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[q] - oclusiva surda pronunciada no fundo da garganta
[º] - consoante laringal inexistente nas línguas europeias que conheço
8º Congresso da International Plutarch Society
Delfim Leão, da Universidade de Coimbra, fez-me chegar o anúncio do 8º Congresso da International Plutarch Society, que promete ser bastante interessante, e que passo a divulgar na íntegra.
8º Congresso da International Plutarch Society
Coimbra, 23-27 de Setembro de 2008
Coimbra, 23-27 de Setembro de 2008
“Symposion e philanthropia em Plutarco”
Na antiguidade clássica, o acto ritualizado de partilhar a comida e a bebida tinha um significado especial, na medida em que constituía uma excelente oportunidade para vencer barreiras e firmar laços de natureza social e afectiva, antes de mais, mas também de cariz político e religioso. Além disso, a vertente de lazer, que acompanhava igualmente grande parte desses momentos, podia traduzir-se em criações culturais, que encontravam no symposion um enquadramento de eleição; basta pensar em manifestações artísticas como a música, a poesia, a retórica e a discussão político-filosófica, para vermos plenamente justificadas as implicações culturais destes eventos.
Aliás, estes propósitos viam-se facilitados pelo papel que o vinho detinha no banquete e que acabava por ser até mais importante do que a refeição propriamente dita, conforme se deduz do sentido primitivo do termo symposion (‘beber em conjunto’). A bebida aproximava os convivas, da mesma forma que o espaço relativamente limitado da sala de jantar e o facto de se encontrarem reclinados ajudavam a concentrar as atenções dos comensais, criando assim um cenário privilegiado para manifestações de philia e de philanthropia. Por isso, era importante que o vinho fosse misturado com água, a fim de permitir o prolongamento da conversa e da diversão, sem que o convívio descambasse em excessos, colocando em risco a harmonia do encontro.
É com este convivalis spiritus que a Sociedade Portuguesa de Plutarco (SoPlutarco) o convida a participar no 8º Congresso da International Plutarch Society, que será dedicado ao assunto “Symposion e philanthropia em Plutarco’ e que procurará, igualmente, servir de estímulo à publicação em Portugal de obras clássicas relacionadas com esta temática.
Temas para enquadramento de comunicações
Symposion (como género literário e como espaço de reunião social); técnicas argumentativas, narrativas e dramáticas no symposion; discussões político filosóficas e formas de expressão artística em contexto de banquete; philanthropia, philia e eros; Quaestiones convivales; Convivium Septem Sapientium.
Comissão Organizadora
José Ribeiro Ferreira (rifer@fl.uc.pt)
Delfim Ferreira Leão (leo@fl.uc.pt)
Paula Barata Dias (pabadias@hotmail.com)
Frances Titchener (f.b.titchener@usu.edu)
Carla Rosa (classic@ci.uc.pt)
Comissão Científica
Luc Van der Stockt
Aurelio Pérez Jiménez
Arnaldo do Espírito Santo
Maria Helena da Rocha Pereira
Maria de Fátima Silva
Francisco Oliveira
Maria do Céu Fialho
Nair de Castro Soares
Linhas gerais do programa
Dia 23, à tardinha: recepção dos congressistas.
Dias 24-26: apresentação de comunicações (edifício da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra).
Dia 27: visita a Conimbriga, villa Romana do Rabaçal, villa Romana de Santiago da Guarda, Tomar (em especial o convento de Cristo) e Mosteiro da Batalha ou de Alcobaça.
Encerramento do congresso, com jantar solene nas caves, na companhia de um bom akratos oinos da Bairrada.
Preços de inscrição
Apresentação de comunicação com direito a publicação*: 100 Euros.
Apresentação de comunicação com direito a publicação*, juntamente com todo o programa social (jantar de encerramento e excursão no dia 27, com almoço incluído): 150 Euros.
Participação no Congresso sem comunicação: 50 Euros (público em geral); 35 Euros (sócios da SoPlutarco e da APEC); 25 Euros (estudantes).
Programa social como opção individual suplementar
Jantar de encerramento: 30 Euros.
Excursão no dia 27, com almoço incluído: 30 Euros.
Prazos de inscrição e entrega de resumos
Inscrição com comunicação: Setembro de 2007; entrega de resumos: Janeiro de 2008.
Inscrição sem comunicação: Maio de 2008 (a partir desta data, poderão ainda ser recebidas inscrições sem comunicação, mas sofrendo um agravamento de 20 Euros).
Alojamento e alimentação
As despesas de estadia não previstas nas diferentes modalidades de inscrição serão suportadas pelos participantes. No entanto, a organização poderá fornecer sugestões de alojamento e alimentação, dentro da oferta disponível na cidade.
* A publicação de uma comunicação fica dependente da leitura e aprovação final do estudo por parte do Conselho Editorial.
domingo, fevereiro 04, 2007
Influências greco-latinas na língua árabe IV
As influências greco-latinas na língua árabe não se restringe a empréstimos morfológicos. Um exemplo de empréstimo semântico é a palavra شهيد [shăhīd], "mártir". O substantivo está relacionado com o verbo شهد [shăhădă], "testemunhar", com outro substantivo da mesma raiz, شاهد [shāĭd], "testemunha". A relação semântica com o grego μάρτυρ [martyr], com o sentido primeiro de "testemunha". O شهيد [shăhīd] é, antes de mais, aquele que morre em combate pelo Islão contra os infiéis. Por outro lado, também os que morrem durante a peregrinação a Meca são considerados mártires, e a designação شهيد [shăhīd] aparece com frequêncoa nos seus epitáfios.
Mas há outras diferenças importantes entre شهيد [shăhīd] / μάρτυρ [martyr]. Desde logo, a palavra grega tem um sentido activo, isto é, é o mártir que presta testemunho. Já a palavra árabe tem um sentido passivo, ou seja, o mártir é objecto de testemunho. As interpretações não são unânimes. No seu monumental Arabic - Englix Lexicon, Edward Lane admite que o termo se deva ou ao facto de o شهيد [shăhīd] ser convidado a testemunhar o dia do Juízo Final, ou que se deva ao facto de anjos assistirem à lavagem ritual do corpo e ao transporte da alma para o Paraíso. Bowersock acrescenta a interpretação de que Deus e os anjos testemunham a morte do شهيد [shăhīd].
Bibliografia básica para esta nota:
Edward William Lane, An Arabic - English Lexicon, Beirute, 1968
G. W. Bowersock, Martyrdom and Rome, Cambridge University Press, 1995
A imagem que ilustra esta nota foi retirada de uma tradição árabe do século X do De Materia Medica, de Dioscórides.
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Normas de transcrição:
[ă] - [a] breve
[ā] - [a] longo
[ĭ] - [i] breve
[ī] - [i] longo
[ŭ] - [u] breve
[ū] - [u] longo
[kh] - [χ] semelhante ao "j" espanhol
[dh] - oclusiva sonora interdental semelhante ao inglês "th" em "the"
[th] - oclusiva surda interdental semelhante ao inglês "th" em "thing"
[DH] - [dh] enfático
[TH] - [th] enfático
[T] - [t] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[S] - [s] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[q] - oclusiva surda pronunciada no fundo da garganta
[º] - consoante laringal inexistente nas línguas europeias que conheço
Mas há outras diferenças importantes entre شهيد [shăhīd] / μάρτυρ [martyr]. Desde logo, a palavra grega tem um sentido activo, isto é, é o mártir que presta testemunho. Já a palavra árabe tem um sentido passivo, ou seja, o mártir é objecto de testemunho. As interpretações não são unânimes. No seu monumental Arabic - Englix Lexicon, Edward Lane admite que o termo se deva ou ao facto de o شهيد [shăhīd] ser convidado a testemunhar o dia do Juízo Final, ou que se deva ao facto de anjos assistirem à lavagem ritual do corpo e ao transporte da alma para o Paraíso. Bowersock acrescenta a interpretação de que Deus e os anjos testemunham a morte do شهيد [shăhīd].
Bibliografia básica para esta nota:
Edward William Lane, An Arabic - English Lexicon, Beirute, 1968
G. W. Bowersock, Martyrdom and Rome, Cambridge University Press, 1995
A imagem que ilustra esta nota foi retirada de uma tradição árabe do século X do De Materia Medica, de Dioscórides.
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Normas de transcrição:
[ă] - [a] breve
[ā] - [a] longo
[ĭ] - [i] breve
[ī] - [i] longo
[ŭ] - [u] breve
[ū] - [u] longo
[kh] - [χ] semelhante ao "j" espanhol
[dh] - oclusiva sonora interdental semelhante ao inglês "th" em "the"
[th] - oclusiva surda interdental semelhante ao inglês "th" em "thing"
[DH] - [dh] enfático
[TH] - [th] enfático
[T] - [t] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[S] - [s] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[q] - oclusiva surda pronunciada no fundo da garganta
[º] - consoante laringal inexistente nas línguas europeias que conheço
Influências greco-latinas na língua árabe III
Ainda relativamente aos empréstimos greco-latinos no árabe tradicional, é curioso notar a preferência pelas consoantes enfáticas ou guturais, quando se trata de transcrever os sons gregos ou latinos.
No caso de قلم [qălăm], o som [k] grego é transcrito não pelo equivalente exacto em árabe (ك "kaf", com o som [k]), mas por um som fortemente gutural e inexistente em grego, o [q], representado pelo "qaf" (ق). Trata-se de uma oclusiva surda, pronunciada muito no fundo da garganta, e claramente distinta de [k]. Talvez nesta caso a preferência pelo som [q] se destinasse a evitar pronúncia [ĕ] da vogal breve [ă], comum em muitos dialectos árabes antes de "lam" (ل , com o som [l]). Com efeito, o "qaf" costuma forçar o [ă] que se lhe segue a ser realmente pronunciado como [ă]. O mesmo fenómeno pode explicar a utilização do "qaf" (ق) para representar o som [k] de "castrum".
Não tenho ainda conhecimentos para compreender o que terá levado à preferência por sons consonânticos inexistentes nas línguas de origem, quando a língua de chegada, o árabe, podia ter feito uma transposição fonética bastante mais próxima do original.
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Normas de transcrição:
[ă] - [a] breve
[ā] - [a] longo
[ĭ] - [i] breve
[ī] - [i] longo
[ŭ] - [u] breve
[ū] - [u] longo
[kh] - [χ] semelhante ao "j" espanhol
[dh] - oclusiva sonora interdental semelhante ao inglês "th" em "the"
[th] - oclusiva surda interdental semelhante ao inglês "th" em "thing"
[DH] - [dh] enfático
[TH] - [th] enfático
[T] - [t] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[S] - [s] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[q] - oclusiva surda pronunciada no fundo da garganta
[º] - consoante laringal inexistente nas línguas europeias que conheço
No caso de قلم [qălăm], o som [k] grego é transcrito não pelo equivalente exacto em árabe (ك "kaf", com o som [k]), mas por um som fortemente gutural e inexistente em grego, o [q], representado pelo "qaf" (ق). Trata-se de uma oclusiva surda, pronunciada muito no fundo da garganta, e claramente distinta de [k]. Talvez nesta caso a preferência pelo som [q] se destinasse a evitar pronúncia [ĕ] da vogal breve [ă], comum em muitos dialectos árabes antes de "lam" (ل , com o som [l]). Com efeito, o "qaf" costuma forçar o [ă] que se lhe segue a ser realmente pronunciado como [ă]. O mesmo fenómeno pode explicar a utilização do "qaf" (ق) para representar o som [k] de "castrum".
Menos compreensível parece-me a transposição do [s] de "Caesar" (القيصرية [ăl-qăySărīyă]) e de "castrum (قصر [qăSr],)". A letra usada não é o "sin" (س, com valor [s]), mas sim o "sad" (ص). Esta letra representa um som inexistente em latim ou em grego: trata-se de um [s] enfático, como que pronunciado com a boca cheia, e que altera profundamente o vocalismo anterior e posterior. No caso do [ă], este adquire, no árabe moderno, um som muito próximo do [o], e que há quem compare ao "å" sueco.
Não tenho ainda conhecimentos para compreender o que terá levado à preferência por sons consonânticos inexistentes nas línguas de origem, quando a língua de chegada, o árabe, podia ter feito uma transposição fonética bastante mais próxima do original.
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Normas de transcrição:
[ă] - [a] breve
[ā] - [a] longo
[ĭ] - [i] breve
[ī] - [i] longo
[ŭ] - [u] breve
[ū] - [u] longo
[kh] - [χ] semelhante ao "j" espanhol
[dh] - oclusiva sonora interdental semelhante ao inglês "th" em "the"
[th] - oclusiva surda interdental semelhante ao inglês "th" em "thing"
[DH] - [dh] enfático
[TH] - [th] enfático
[T] - [t] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[S] - [s] enfático, pronunciado como que com a boca cheia
[q] - oclusiva surda pronunciada no fundo da garganta
[º] - consoante laringal inexistente nas línguas europeias que conheço
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Latim
quinta-feira, fevereiro 01, 2007
Colóquio - MYTHOS
Miguel Ângelo, Faetonte
Decorre na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa entre 29 e 30 de Março de 2007 um colóquio subordinado aos temas "Mito, Literatura e Arte" e "Mitos Clássicos no Portugal Quinhentista. Mais informações e programa aqui.
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