É que, creio eu, a obra não espera pelo lazer do obreiro, mas a força é que o obreiro acompanhe o seu trabalho, sem ser à maneira de um passatempo.
(trad. Rocha Pereira)
«A trigueirinha estudou a sua lição, e o Rei ajudou-lhe a pronunciar os ditongos. Sua Majestade sabia regularmente a língua francesa e espanhola. A italiana ensinou-lha, vinte anos depois, a actriz Petronilla, a quem deu presentes que carregaram trinta cavalgaduras quando a cantora se fez na volta de Espanha, diz o Cavalheiro de Oliveira. D. António Caetano de Sousa, na História Genealógica da Casa Real, tom. VIII, pág. 4, diz que o Rei sabia também latim com perfeita inteligência. De um sujeito que lia Horácio e Cícero, dizia Bocage: "Pena é que saiba latim, pois perdeu-se um parvo grande!" D. João V, ainda com latim, não era parvo pequeno nem perdido.»
O Prof. Doutor José Pedro Serra, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, é o responsável pelas conferências que realizarão todas as quartas-feiras de Fevereiro às 18h30, na sala 2 da Culturgest (entrada livre). O Fulgor da Grécia: o olhar, a palavra, o gesto tem quatro sessões: "Homero ou o canto da vida heróica" (dia 4), "No espelho da tragédia" (dia 11), "Dioniso: Sol negro entre os olímpicos" (dia 18), "Ao tear do tempo: Atenas e Jerusalém" (dia 25).
«Foi descoberto, em Mértola, um mausoléu do século VI d.C. "único no Ocidente", que terá servido para sepultar "pessoas importantes" de origem grega. Esta descoberta arqueológica testemunha a presença de orientais em Mértola antes da islamização. Foi encontrado durante as obras de remodelação do Eixo Comercial de Mértola, na Rua Afonso Costa, junto à GNR.
Trata-se de "um mausoléu fantástico, absolutamente fora de série" e "o único edifício mortuário do género achado em todo o Ocidente do Mediterrâneo, onde, até agora, não há nenhum parecido", afirma Cláudio Torres.»
Quem se não calou foi António de Cavide. O Rei leu a carta do ouvidor, espremeu em contrafeito riso o fel do despeito, mascou umas palavras regougadas, e, atirando a carta com desprezo ao manteeiro, disse afinal:
- Foi educada pelo padre Luís da Silveira...
- Nunca se disse tão conceituosa frase, meu senhor! - exclamou o ministro batendo as palmas com o estúpido entusiasmo da lisonja. E repetiu: - Foi educada pelo padre Luís da Silveira! Admirável, e digno de Juvenal, de Marcial, e... de Vossa Majestade!
- E que monta ser rei quando se é frágil como qualquer homem! - disse D. João IV com direito aos louvores do valido meditabundo.
- Estou pensando, real senhor!... - disse o ministro. - Vossa Majestade nestas poucas expressões compendiou um livro: E que monta ser rei quando se é frágil como qualquer homem!? Puro Séneca e Platão!...
O programa Today é um dos mais conhecidos e aclamados da BBC Radio 4. A seguir ao natal, esteve em estúdio o padre que traduz os textos da Igreja Católica para latim (tarefa que fez já sob diferentes papas, pois que a cumpre há 40 anos). Reginald Foster afirmou que se o papa usasse o latim nos seus discursos falava menos e com mais rigor, sem subterfúgios, pois a língua latina não permite a vacuidade e os devaneios do politiquês (para ouvir aqui).
Ao ouvir o Padre Foster (que já tinha sido notícia na BBC por causa da sua preocupação com o desaparecimento do latim) a falar, recordei este passo de A Educação Sentimental, de Gustave Flaubert, quando Frédéric, logo a seguir à proclamação da República em 1848, se encontra a assistir a uma reunião do clube “dos inteligentes” (‘clube’ neste contexto significa ‘partido político’):
— Michel-Evariste-Népomucène Vicent, ex-professor, exprime o voto no sentido de a democracia europeia adoptar a unidade de linguagem. Poderíamos servir-nos de uma língua morta, como por exemplo o latim aperfeiçoado.
— Não! Latim, não! — exclamou o arquitecto.
— Porquê? — replicou um professor.
E os dois cavalheiros envolveram-se numa discussão, a que todos se associaram, cada um lançando a sua frase para deslumbrar, e que não tardou a tornar-se tão fastidiosa que muitos se retiraram.
Usei a tradução de João Costa (Lisboa: Relógio d'Água, 2008), 245.
Nos últimos anos, o número de professores de Latim tem vindo a diminuir drasticamente no Reino Unido, a ponto de a Casa dos Lordes do Parlamento ter demonstrado preocupações a esse respeito, pois começa a ser cada vez mais claro que não vai haver professores suficientes para assegurar o ensino desta língua dentro de pouco tempo. Lord Faulkner demonstrou ainda preocupações acerca da alta percentagem de escolas que não ensinam Latim, apesar de este número ter vindo a aumentar. Já para o ano vai haver um estudo sobre a introdução do Latim nos currículos de línguas. É a notícia da BBC que a seguir se lê:
A decline in the number of Latin teachers poses a serious threat to the teaching of the language in schools, peers have been told.
Lord Faulkner of Worcester said he was concerned the number of Latin teachers leaving the profession each year was far outnumbering those being trained.
He urged the government to give Latin the same priority in the curriculum as modern languages to reverse this trend.
Ministers said modern languages were their priority at primary school level.
Important subject
For every 35-40 new Latin teachers entering the profession every year, more than 60 were either retiring or opting to do something else, Labour peer Lord Faulkner said in the House of Lords.
He also expressed dismay about the 85% of state schools he said did not currently teach Latin at all.
"Isn't it time that Latin was reclassified as an official curriculum language and given the same encouragement as other languages?" he told peers.
Where individual schools could not offer Latin, ministers should urge local education authorities to include the subject somewhere on their curriculum.
For the government, Baroness Morgan of Drefelin said Latin was an "important subject" and a valuable tool in helping people learn a broad range of other languages.
She said it was "worrying" if a growing number of teachers were exiting the profession, for whatever reason, every year.
The number of non-selective state schools offering Latin had doubled since 2000, she said, while there would be a consultation on Latin's inclusion in the languages diploma next year
But she stressed: "It is for schools to decide whether it should be included in the curriculum."
Figures published earlier this year showed the number of non-selective state secondary schools in England teaching Latin rose from 200 in 2000 to 471 last year.
But education specialists have expressed concerns that the rise in pupils learning the language is limited to Key Stage 3 pupils aged 12-14 and is not mirrored at GCSE and A-level.
There are also concerns about a continuing shortage in the number of postgraduate teaching colleges offering Latin courses.
O tradutor da Ilíada, da Odisseia, entre outros, autor dos recém-editados Novos Ensaios Helénicos e Alemães, Frederico Lourenço tinha já adaptado a Odisseia para jovens. Os Livros Cotovia anunciam agora para breve a adaptação da Ilíada para jovens feita pelo mesmo autor.
O Centro de História da Universidade de Lisboa, através da sua linha investigação Mundo Antigo e Memória Global, em colaboração com o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, vem por este meio divulgar o Colóquio Sociedade e Poder no tempo de Ovídio. A assinalar o bimilenário do «exílio» de Ovídio, coordenado pelos Professores Nuno Simões Rodrigues e Maria Cristina de Sousa Pimentel, e que se realizará nos próximos dias 11 e 12 de Dezembro, no Anfiteatro III da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A entrada no Colóquio é livre, destinando-se a inscrição, no valor de EUR 5, à obtenção do certificado de presença. Em anexo seguem cartaz de divulgação e desdobrável com o programa e boletim de inscrição. Para qualquer informação, queiram por favor contactar o secretariado do Colóquio, através do email centro.historia@fl.ul.pt.
«Morto buscava a Madalena a Cristo na sepultura, e a perseverança e amor com que insistiu em o buscar morto, foi causa de que o Senhor lhe enxugasse as lágrimas e se lhe mostrasse vivo. Grande exemplar temos entre mãos! Assim como a Madalena, cega de amor, chorava às portas da sepultura de Cristo, assim Portugal, sempre amante de seus reis, insistia ao sepulcro de el-rei D. Sebastião, chorando e suspirando por ele; e assim como a Madalena no mesmo tempo tinha a Cristo presente e vivo, e o via com seus olhos e lhe falava e não o conhecia, porque estava encoberto e disfarçado, assim Portugal tinha presente e vivo a el-rei nosso senhor, e o via e lhe falava e não conhecia. Porquê? - Não só porque estava, senão porque ele era o encoberto.»
Horácio foi "uma das mais brilhantes figuras literárias do século de Augusto", tendo desde cedo na nossa literatura influenciado diversos autores nacionais (este influxo ficou conhecido por horacianismo). "Esta influência exerceu-se, quer pela leitura directa do texto das Odes, quer pela doutrinação estética derivada da Epístola aos Pisões (...). Pode datar-se historicamente o culto pela lírica horaciana do surto erudito que leva à redescoberta das literaturas antigas e se integra no movimento geral do Renascimento." "Com o surto do Romantismo, a voga do vate latino parece entrar no seu declínio, mas não sem que surjam ainda alguns autores cuja obra é como um fruto tardio no meio das modas literárias do tempo." "A sensibilidade moderna ainda pode vibrar à leitura do texto latino e um dos nossos poetas mais intelectualizados, Fernando Pessoa, atinge no livros das Odes (...) uma sóbria e marmórea disciplina formal, em que se evidencia uma profunda assimilação dos valores estéticos, verbais e rítmicos, do horacianismo". Luís de Sousa Rebelo, A Tradição Clássica na Literatura Portuguesa (Lisboa: Livros Horizonte, 1982), 106, 109, e 110.
Está à venda nas boas livrarias o segundo volume das Metamorfoses de Ovídio, traduzidas por Domingos Lucas Dias (Professor da Universidade Aberta e um dos tradutores do De Trinitate, de Santo Agostinho, equipa essa recentemente galardoada com o prémio de tradução científica e técnica União Latina/FCT). Sobre o primeiro volume e as impressões que me causou, ver este texto.
O segundo volume tem as mesmas características do primeiro: bilíngue (os erros que apontei no latim foram corrigidos) e notas explicativas, sendo ainda notável a fluidez literária e literal do texto ovidiano. O livro, de 24,15€, editado pela Vega, tem ainda posfácio, índice temático, índice remissivo para os dois volumes (algo que faltava no primeiro e é agora suprido), e uma linda capa azul.
Aproveito para recordar que irá realizar-se nos dias 11 e 12 de Dezembro, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o colóquio Sociedade e Poder no Tempo de Ovídio (promovido pelo Centro de História da Universidade de Lisboa e pelo Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra).
À TSF vai Isaltina Martins, presidente da associação de professores de Latim e Grego:
15h-16h [esta semana o programa termina às 16h]: que sentido tem, hoje, aprender latim e grego? Há um evidente - porque comensurável - desinteresse pela aprendizagem destas duas línguas que passaram de moda, o que se reflecte no encerramento de cursos superiores e no cada vez menor número de alunos no secundário.É com este contexto que vem ao programa Isaltina Martins, professora de latim na Escola Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, e presidente da Associação de Professores de Latim e Grego.
Ao longo do programa vamos ouvir alunos do secundário e da universidade que estudam latim e grego.
Mais Cedo ou Mais Tarde, hoje, depois das 3h da tarde na TSF. Pode ser ouvido mais tarde aqui e em podcast.