sexta-feira, novembro 20, 2009

Doutoramento «Honoris Causa»

De George Steiner, dia 26 de Novembro de 2009 às 15h00 no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa. George Steiner receberá as insígnias de doutor honoris causa por proposta da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e será apadrinhado na cerimónia pelo Professor José Pedro Serra (professor associado com agregação do Departamento de Estudos Clássicos da FLUL), que proferirá o elogio.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Paisagem e erudição no humanismo português


Lançamento do livro

'Paisagem e erudição no humanismo português. João
Rodrigues de Sá de Meneses
'


de Ana María S. Tarrío

4 de Dezembro
pelas 18.00 horas

Fundação Calouste Gulbenkian
no âmbito da Festa do Livro

sexta-feira, novembro 06, 2009

Vestígios Arqueológicos da Época Romana em Alcácer do Sal

«Um conjunto de tanques, cerâmica, uma cisterna e três esqueletos são alguns dos vestígios da época romana encontrados no local onde estava prevista a construção, já suspensa, do Centro Escolar do Torrão, concelho de Alcácer do Sal.» Ler mais aqui.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Paisagem e Erudição no Humanismo Português

(Ana María S. Tarrío)

«João Rodrigues de Sá de Meneses (1486/87-1579), alcaide-mor do Porto, celebrado pela geração camoniana como pai fundador da nova aristocracia das letras, prefigurou intensamente a dualidade renascentista da pena e da espada. Acusado quatro vezes perante o tribunal da Inquisição por comportamentos heréticos e por práticas de sodomia, representava a facção intelectual mais ousada da nobreza manuelina, marcada pelo impacte da formação humanística italiana e em breve incómoda, no período de rigor doutrinário contra-reformista (...). Elaborou as composições poéticas mais vanguardistas do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende de 1516, renovando a medida velha com novos conceitos e princípios humanísticos antes da renovação métrica de Bernardim Ribeiro e Francisco de Sá de Miranda, seu primo. Além de várias composições poéticas neolatinas, redigiu a singular monografia 'De Platano', que aqui se publica. Nesta obra rara da literatura renascentista europeia a imagética neoplatónica da natureza aviva-se para produzir um discurso nacional que procura superar a condição de periferia cultural lusitana relativamente à hegemonia italiana.»

Ana María S. Tarrío, Paisagem e Erudição no Humanismo Português. João Rodrigues de Sá de Meneses. De Platano (1527-1537). Estudo introdutório, edição crítica, tradução e notas. Gulbenkian, Lisboa, 2009

sexta-feira, outubro 23, 2009

«Édipo e a Esfinge»

























O quadro que Jean-Auguste Ingres pintou (terminado em 1825) sobre Édipo foi cedido temporariamente e a título excepcional pelo Museu do Louvre ao Museu Berardo. Pode agora ser visto em Lisboa até 10 de Janeiro de 2010. Ler mais aqui.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Nero's rotating dining room discovered

"Archaeologists in Rome have unearthed what they think are the remains of a circular rotating dining room that belonged to the Emperor Nero.
They say it was probably his banqueting hall that imitated the earth's movement so he could impress his guests."

Notícia da BBC (ver reportagem).

terça-feira, agosto 04, 2009

Novo sítio do Centro de Estudos Clássicos

O Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa pôs ontem no ar um novo sítio electrónico. Ainda há ajustes a fazer, mas pretende-se fazer daquele espaço um meio privilegiado de divulgação da actividade do centro e dos seus investigadores (eventos científicos, publicações e projectos), desenvolvida essencialmente na área dos estudos clássicos, medievais e humanísticos.

Está ainda prevista uma versão do mesmo sítio totalmente em inglês.

quinta-feira, julho 09, 2009

Final da Antígona de Girandoux

“Como é que se chama, quando o dia desponta, como hoje, e em que tudo está malbaratado, em que tudo está saqueado, e em que, no entanto, o ar é respirável, e em que perdemos tudo, em que a cidade arde, em que os inocentes se matam uns aos outros, mas em que os culpados agonizam num canto do dia que desponta? - Pergunta ao mendigo. Ele sabe. - Isso tem um belo nome, senhora Narses. Chama-se aurora.”

apud Jacqueline de Romilly, A Tragédia Grega, Lisboa 1997 (Paris, 1970), p.153

quinta-feira, julho 02, 2009

Rei Édipo no TNDM

Uma das peças previstas para a temporada 2009-2010 do Teatro Nacional D. Maria II é Rei Édipo.

Officina Romanorum

O CEC - Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa está a organizar, em experiência-piloto, uma semana de actividades de sensibilização à Língua Latina e à Cultura Clássica, matriz cultural e factor identitário do mundo moderno de padrão ocidental, com os seguintes objectivos:

  • Adquirir noções básicas de Cultura Romana
  • Melhorar a compreensão da Língua Portuguesa
  • Iniciar crianças dos 8 aos 12 anos na Língua Latina
  • Desenvolver o raciocínio lógico
  • Explorar noções como “Ser Europeu” e “Cultura Europeia”
  • Aprende, ler e pesquisar - brincar aprendendo, aprender brincando
  • Estimular as crianças para uma educação superior
  • Promover a apetência pelo enriquecimento curricular
  • Responsabilizar pelo desenvolvimento de um trabalho colectivo a ser publicado

Curso prático de introdução à epigrafia

O Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia promove nos dias 10 e 11 deste mês o curso Saxa Scripta — Introdução à Epigrafia. O curso orientado por Pedro Marques tem o seguinte programa:

O curso Saxa Scripta está organizado em vários módulos temáticos, especificamente Epigrafia Romana, Introdução ao Latim Epigráfico, A Sociedade, Epigrafia Funerária, Epigrafia Oficial, Epigrafia Votiva, Epigrafia em Instrumenta, Epigrafia em Mosaicos.

O que é a epigrafia romana? A epigrafia desempenhou um papel na civilização romana e fornece-nos informações importantes para melhor compreendermos vários aspectos das vivências nessa civilização, nomeadamente as práticas funerárias, as práticas votivas e os actos de cariz oficial, entre outros. O interesse pelo estudo da epigrafia romana surgiu no Renascimento, época em que a sua importância como fonte histórica originou inclusivamente a falsificação de inscrições.

Para ler uma inscrição, é necessário ter um conhecimento do léxico epigráfico, assim como de vários aspectos práticos. Deste modo, iremos apresentar o léxico epigráfico e transmitir algumas informações acerca da leitura, do comentário e da publicação de uma inscrição.

As inscrições que abordaremos estão gravadas em Latim, pelo que explicaremos sucintamente as características fundamentais do latim epigráfico.

A epigrafia fornece-nos várias informações respeitantes à sociedade. Neste âmbito, abordaremos as questões da fórmula onomástica, do cursus honorum e da titulatura imperial.

Os restantes módulos consistem na análise das inscrições, apresentando as principais características de cada âmbito e efectuando exercícios práticos de leitura e comentário epigráficos. Iremos analisar os seguintes âmbitos: a epigrafia funerária; a epigrafia oficial, nas vertentes honorífica, monumental, jurídica e viária; a epigrafia votiva, respeitante às divindades indígenas, aos cultos romanos, aos cultos orientais, às inscrições de cariz pânteo, aos esconjuros e ao culto imperial; a epigrafia em instrumenta, nomeadamente as marcas de oleiro. Terminaremos com alguns exemplos de epigrafia em mosaicos.

Informações e inscrições pelo email gamna@mnarqueologia-ipmuseus.pt

 

sexta-feira, junho 26, 2009

Uma fala de «Equus» (1977)

[Martin Dysart] I wish...there was somebody in this life I could show... one... instinctive, absolutely unbrisk person that I could take to Greece... and stand in front of certain shrines and sacred streams and say: ''Look... life is only comprehensible through a thousand... local gods. Not just the old, dead gods, with names like Zeus... but living geniuses of place and person. Not just Greece, but modern England. Here spirits of certain trees... of certain curves of brick wall... of certain fish-and-chip shops, if you like... and slate roofs... frowns in people, slouches.'' I'd say to them: Worship... all you can see... and more will appear.

Uma fala de um filme de 1977, Equus, realizado por Sidney Lumet, a partir de uma peça de Peter Schaffer. O actor que representa o papel de Martin Dysart é Richard Burton.

segunda-feira, junho 15, 2009

Interpretação e Tradução das Lendas da Fundação de Roma


Começa no dia 6 de Julho, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Cave B), o Seminário de Interpretação e Tradução das Lendas da Fundação de Roma — leituras de Tito Lívio. Durante o mês de Julho e ao longo de 25 horas, a Prof.ª Doutora Ana Alexandra Alves de Sousa irá dirigir o curso que tem como objectivo, segundo o cartaz de divulgação, o “aperfeiçoamento em língua latina, a partir da leitura de trechos da obra de Tito Lívio que remetam para as lendas da fundação de Roma: o rapto das Sabinas, Clélia, Múscio Cévola, Cincinato, Lucrécia”. Destinado a todos os que pretendam “aperfeiçoar e desenvolver os conhecimentos da língua latina”, o “curso não tem como alvo exclusivo o público universitário, mas todos os interessados no objecto de estudo.” Como requisitos, apontam-se “conhecimentos básicos da língua latina”. A inscrição pode ser feita no primeiro dia, por email (lendasderoma@sapo.pt) ou pelo número de telefone 966 159 595.



sexta-feira, junho 12, 2009

Época Augustana na BBC Radio 4

Ontem, no programa In Our Time, Melvyn Bragg debateu com Mary Beard (Professora de Estudos Clássicos na Universidade de Cambridge), Catharine Edwards (Professora de Estudos Clássicos e de História Antiga no Birkbeck College da Universidade de Londres), e Duncan Kennedy (Professor de Literatura Latina na Universidade de Bristol) a época augustana, “a time of strange connections between politics, peace, literature and creeping tyranny. It saw the rebuilding of Rome, the flowering of Virgil, Ovid and Horace and the slow but sure turning of the Roman Republic into the Roman Empire.”

In Our Time é o programa da BBC Radio 4 da responsabilidade de Melvyn Bragg; é transmitido às quintas-feiras, das 9h às 9h45 da manhã (com repetição às 9h30 da noite). Pode-se ouvir aqui, ou descarregar o podcast daqui.

domingo, maio 24, 2009


"Eu não era um erudito. Tal como muitos, ou a maioria, dos estudantes da minha geração, li O Banquete de Platão. Achei-o muito divertido. Mas fui levado por Ravelstein a relê-lo. Não propriamente levado. Mas se estivéssemos continuamente na sua companhia éramos repetidamente remetidos para O Banquete. Ser-se humano era ser-se mutilado, amputado. O homem é incompleto. Zeus é um tirano. O Monte Olimpo é uma tirania. O trabalho da humanidade no seu estado amputado é percorrer a metade que falta. E, após tantas gerações, a nossa verdadeira metade simplesmente não é encontrada. Eros é uma compensação outorgada por Zeus - provavelmente por motivos políticos próprios. E a busca pela nossa outra metade é em vão. O encontro sexual permite um temporário esquecimento de nós próprios, mas a dolorosa consciência da nossa mutilação é permanente."

Saul Bellow, Ravelstein, Lisboa, 2001 (trad. Rui Zink)

sexta-feira, maio 22, 2009

Seminário sobre Fílon de Alexandria

(no âmbito do Projecto "Fílon de Alexandria nas origens da cultura ocidental")


"Philo's Hypothetica: introducing him and some of the problems associated with his work"
(Apologia dos Judeus: o autor e alguns dos problemas associados à sua obra)


Professor Gregory E. Sterling
(College of Arts and Letters
University of Notre Dame, Indiana USA)

28 de Maio (5ª feira)
11 horas
Centro de Estudos Clássicos
Faculdade de Letras

quarta-feira, maio 20, 2009

Fílon de Alexandria nas origens da cultura ocidental

No âmbito do Projecto "Fílon de Alexandria nas origens da cultura ocidental",

o Professor Gregory E. Sterling
(College of Arts and Letters, University of Notre Dame, Indiana USA)

proferirá uma Conferência intitulada

"Elegant in expression and broad on thought:
an introduction to the writings of Philo of Alexandria"

28 de Maio (5ª feira), 15 horas
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Sala 5.2 (sala de Mestrados)

sexta-feira, maio 08, 2009

Medeia, de Chico Buarque

Aquela que em Eurípides é Medeia, em Gota d'Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes (1975), é Joana. A peça estreou dia 1 de Maio, e fica até domingo no CCB. Começa depois uma digressão por Portugal, que terminará dia 23 em Faro.

Ouvir no Cineteatro Avenida.

terça-feira, abril 28, 2009

"And Now for Something Completely Different"




Sim, sim, é mesmo grego antigo.

(Nota: Para sua maior comodidade por favor toque mentalmente a música do genérico dos Monty Python enquanto assiste a este vídeo.)

Párodo do Agamémnon


Deixo-vos um excerto de uma representação do Agamémnon de Ésquilo, correspondente à secção lírica do párodo (aproximadamente vv. 123-257 do texto grego). Esta representação da Oresteia, encenada por Peter Hall a partir da recriação poética por Tony Harrison, foi pela primeira vez levada a cena no National Theatre em 1981 e foi em 1983 transmitida no Channel 4.

sexta-feira, abril 24, 2009

Os Géneros Literários como fenómenos de longa duração: Continuidades e rupturas, da Antiguidade aos nossos dias

No âmbito do Programa de Intercâmbio e Mobilidade estabelecido com a Cátedra Sá de Miranda da Universidade Blaise Pascal (Clermont-Ferrand) relativo ao projecto «Transmissão e transformação dos géneros literários nos países lusófonos» realizar-se-á, com o apoio do Mestrado em Estudos Românicos e do Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa, o seminário de investigação intitulado Os Géneros Literários como fenómenos de longa duração: Continuidades e rupturas, da Antiguidade aos nossos dias.

O seminário decorrerá no dia 25 de Maio de 2009, na sala 2.13 da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A entrada é livre.

Programa

9h30: Boas-vindas (Arnaldo Espírito Santo)
9h45: A questão do género na obra de G. Genette: inquirições entre poética, retórica e estética (Celina Silva)
10h05: Mitografia. Um género literário da época helenística? (Abel Pena)
10h25: Metamorfoses da Tragédia (José Pedro Serra)
11h30: O anel de Polícrates: da historiografia de Heródoto à ficção dramática de Eugénio de Castro e Machado de Assis (Cristina Abranches Guerreiro)
11h50: Sermões paródicos franceses no final da Idade Média e no Antigo Regime (– Margarida Madureira)
12h10: A vida da comédia na comédia Vita-Humana do Jesuíta Luís da Cruz (Manuel Barbosa)
14h30: Entre Camões e Tasso — os caminhos da épica portuguesa seiscentista (Manuel Rodrigues)
14h50: Presença da epopeia nas literaturas lusófonas do século XX (Saulo Neiva)
15h10 Da epístola familiar ao lado público das cartas privadas: o caso de Feliciana de Milão (Pedro Sena-Lino)
16h30: Implicações Paródicas do Poema Herói-Cómico: a Batracomiomaquia e a inversão do épico, O Hissope e a crítica anticlerical (Rui Carlos Fonseca)
16h50: Sobrevivências clássicas e releituras ‘modernas’ nos Idílios de Alcipe (Vanda Anastácio e Inês de Ornellas e Castro)
17h50: A literatura de cordel: género ou modo de difusão? (Isabel Ferreira)
18h10: Garrett e a tradição clássica: de Safo a Horácio (Ricardo Nobre)

A cada sessão segue-se um debate.

quinta-feira, abril 23, 2009

Clube do Livro de Clássicas

A próxima sessão do Clube das Clássicas é já no dia 20 de Maio, e contará com a presença de José Mário Silva. Escritor e crítico literário, José Mário Silva tem na sua poesia claras referências ao mundo clássico. Editou em 2001 o seu primeiro livro de poemas, Nuvens & Labirintos (Gótica), a que se seguiu em 2008 o volume de micronarrativas Efeito Borboleta e outras histórias (Oficina do Livro). Já em 2009 sai o seu segundo livro de poemas, Luz Indecisa (Oceanos). Deste livro aqui ficam umas linhas.

geografia humana


fast forward


Por muito
que aceleres

– duas vezes,
quatro vezes –

nunca deixas
de ter pressa.

segunda-feira, abril 20, 2009

Clube do Livro de Clássicas

O Clube das Clássicas regressou, trazendo agora autores jovens ao nosso convívio. O primeiro é Paulo Rodrigues Ferreira, que lança o seu primeiro livro, com a chancela Livrododia Editores. É já no dia 22, no átrio da Biblioteca da FLUL. Confirmada está também a visita, ainda durante este semestre, de José Mário Silva e Luís Filipe Cristóvão.



Agrippina

Termina no fim deste mês a encenação da ópera Agrippina, de G. F. Handel, no Teatro Nacional de São Carlos. As artimanhas de que a filha de Germânico se serve para colocar o filho no poder cantadas pelas vozes de Alexandra Coku, Reinhard Dorn, ou Chelsey Schill.

XI Festival Internacional de Teatro de Tema Clássico

De 28 de Abril a 26 de Julho. Programa e pormenores aqui.

quarta-feira, abril 08, 2009

O valor de Cícero

Na opinião de Charlotte Higgins, do Guardian.

Em Outubro

segunda-feira, março 23, 2009

GÉNEROS LITERÁRIOS

CONTINUIDADES E RUPTURAS, DA ANTIGUIDADE AOS NOSSOS DIAS

No âmbito do Programa de Intercâmbio e Mobilidade estabelecido com a Cátedra Sá de Miranda da Universidade Blaise Pascal (Clermont-Ferrand) relativo ao projecto «Transmissão e transformação dos géneros literários nos países lusófonos» realizar-se-á, com o apoio do Mestrado em Estudos Românicos e do Centro de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa, o seminário de investigação intitulado Os Géneros Literários como fenómenos de longa duração: Continuidades e rupturas, da Antiguidade aos nossos dias.

PARTICIPANTES: Abel Pena, Celina Silva, Inês de Ornellas e Castro, Manuel Barbosa, Manuel Rodrigues, Margarida Madureira, Saulo Neiva, Pedro Sena Lino, Isabel Ferreira, Ricardo Nobre, Rui Carlos Fonseca, Cristina Abranches Guerreiro e Vanda Anastácio.

Faculdade de Letras - Universidade de Lisboa, sala 2.13
25 e 26 de Maio de 2009
ENTRADA LIVRE

domingo, março 22, 2009

Oedipus, National Theatre

A Presença Grega

No dia 7 de Março, saiu na Actual (pp. 12–14), com o Expresso, uma entrevista de António Guerreiro à Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, Professora Catedrática Jubilada da Universidade de Coimbra. É essa entrevista que a seguir se reproduz, com algumas emendas e notas.

 

A presença grega

A literatura, a cultura e a arte gregas são o território de Maria Helena da Rocha Pereira, uma universitária insigne.

 

Apesar dos constrangimentos que as reformas sucessivas do ensino secundário impuseram aos estudos do Latim e do Grego, nos últimos anos têm sido publicados muitos trabalhos e traduções de um reputado grupo de classicistas. A professora Maria Helena da Rocha Pereira é a decana da disciplina, uma universitária (de Coimbra) que alcançou um vasto prestígio e autoridade, reconhecidos muito para além dos meios universitários.

 

A professora é em Portugal a representante mais ilustre de uma disciplina, os estudos clássicos, que era até ao final do século XIX, a disciplina mestra das Humanidades, mas é hoje um resíduo na formação universitária...

Na verdade, é uma disciplina que tem perdido muitos alunos. Há hoje um endeusamento da tecnologia, não da ciência. A cultura clássica está na base de toda a cultura europeia. Quando na reforma de 1957 se introduziu a disciplina de História da Cultura Clássica, comum a todos os cursos de Letras, esta foi muito apreciada tanto na Universidade de Coimbra como na de Lisboa. Nessa época, os alunos tinham tido alguns anos de Latim, alguns tinham mesmo tido Grego. Eu, por exemplo, não tive Grego, só o aprendi na Faculdade. Os alunos dessa disciplina comum encontravam-se numa situação variada quanto ao conhecimento dos textos e à competência para os ler no original. Razão pela qual comecei logo a traduzir os textos fundamentais e a distribuí-los em folhas. Era o que se podia fazer na altura.

 

Não havia traduções portuguesas dos clássicos?

Havia muitas traduções, mas não eram traduções directas, eram pseudo-traduções, feitas de outras línguas. Hoje estamos mais bem servidos, nesse aspecto. Mas havia uma série de textos que os alunos tinham de conhecer para perceber as minhas aulas. Em 1959, publiquei a primeira edição da antologia Hélade, tornando acessíveis os textos fundamentais da cultura grega. Depois, traduzi obras inteiras de vários autores, por exemplo A República, de Platão. Mas não é que goste de traduzir. Tenho passado a vida traduzir por necessidade. Aquilo de que gosto é do sabor do original, sinto sempre que estou a atraiçoar. O Teatro Universitário de Coimbra, no tempo de Paulo Quintela, pediu-me que eu traduzisse A Medeia, de Eurípides. E também traduzi para eles a Antígona. Paulo Quintela fazia umas encenações maravilhosas, tinha resolvido muito bem a maneira de o coro se exprimir, algo muito difícil porque não podia ser através do canto, uma vez que não podemos reconstituir a música da Antiguidade. Era uma coisa maravilhosa ouvir os coros das tragédias gregas encenadas por ele.

 

Por qual dos três géneros canónicos, o épico, o lírico e o dramático, se sentiu mais atraída?

É difícil dizer. Há quem diga que eu gosto sobretudo da tragédia. Talvez seja verdade. Porque foi o fascínio pela Oresteia, de Ésquilo, um dos factores que fizeram com que escolhesse o curso de Clássicas. Eu andava no Liceu, tinha 13 anos, e li uma excelente tradução francesa da Oresteia e fiquei maravilhada.

 

Entrou para a Faculdade sem saber Grego. Ao fim de quanto tempo estava em condições de ler e apreciar os textos?

No fim do curso conseguia ler os mais simples. Depois fui estudar para Oxford e um dos professores, ao saber que eu tinha apenas quatro anos de Grego, disse-me: "A Senhora é capaz de ler no original, à primeira vista, um texto seguido, mesmo de Píndaro e Ésquilo?". Eu respondi: "Desses autores, não".

 

Quando acabou o curso foi logo com uma bolsa para Oxford?

Não imediatamente. Fiquei ainda cá três anos, no Porto, em casa dos meus pais. E durante esses três anos fui estudando e preparando aquilo que desejava que fosse a minha tese de doutoramento, que acabou por ser "Concepções Helénicas de Felicidade no Além, de Homero a Platão". Durante parte desses três anos ainda ensinei no recém-fundado Centro de Estudos Humanísticos, que foi o embrião da Faculdade de Letras.

 

Nessa tese faz uma leitura "literária" de Platão?

Não é propriamente um estudo filosófico, para o qual não teria competência, mas um estudo dos vários aspectos complexos d' A República, também enquanto obra de arte. Em Oxford, a Faculdade de Litterae Humaniores (era assim que se chamava) compreendia a Filosofia Antiga. Achava-se, e muito bem, que para compreender a Filosofia Antiga era preciso saber ler no original.

 

Sentiu uma grande diferença (nos métodos, nos objectos de estudo) entre aquilo que tinham sido os seus estudos e aquilo que Oxford lhe proporcionou?

Lá fui confrontada com uma diversidade de assuntos que estavam completamente ausentes dos estudos, em Portugal. Eu tinha o estatuto de "estudante reconhecida", não pertencente a nenhum College, mas já licenciada por aqui e tendo direito a um Director de Estudos, que foi o professor Dodds, autor de um famoso livro, Os Gregos e o Irracional. Lá aprendi Crítica Textual, Paleografia Grega, Epigrafia, enfim, tudo isso que me faltava. E estudei os vasos gregos, com o maior especialista da época, John Beazley.

 

Por cá, imperava a ideia de que o Latim e o Grego, enquanto "línguas mortas", deviam ser objecto de uma aprendizagem muito voltada para a gramática e para o exercício mecânico da tradução.

Sim, os textos eram meramente campos de exercício. Imperava aquele ditado: "Conjuga e declina, saberás a língua latina". Foi com essa visão asfixiante que eu quis acabar. É certo que essa aprendizagem implica um exercício de atenção e de destreza mental que têm de existir. Mas é muito pouco, em relação a toda a riqueza cultural e literária dos textos da Antiguidade. Por exemplo, assistir ao nascimento da ciência, nos Gregos, é uma coisa maravilhosa. Pouca gente sabe que o movimento da Terra à volta do Sol foi descoberto por um Grego, Aristarco de Samos. Mas isso causou a indignação de outros sábios. E depois Ptolemeu, que teve uma grande influência, negou esse movimento. E essa descoberta ficou congelada até ao Renascimento, até Copérnico.

 

A massa dos textos da Antiguidade que nos chegaram é apenas uma ínfima parte do que foi escrito. Como se sente o estudioso perante esta falta?

De um modo geral, chegaram-nos fragmentos ou citações feitas por outros. Mas vão ainda aparecer muitas coisas. Sabe-se que a erupção do Vesúvio, que destruiu Pompeios e Herculano, reduziu a cinzas a biblioteca de um filósofo. Tudo leva a crer que nessa biblioteca de papiros havia muitas obras dos filósofos gregos. Por enquanto não há meio de desenrolar esses papiros sem que eles não se desfaçam por completo. Pelo que os especialistas resolveram aguardar até que haja condições técnicas para os ler. E estão sempre a aparecer papiros. Muitos, no Norte de África, porque o clima e o solo arenoso favorece a conservação. Outros, noutros lados.

 

A massa documental tem vindo a ser aumentada?

Pois tem, com descobertas constantes. Há autores cuja obra foi bastante ampliada.

 

Também trabalhou na edição de textos?

Sim. Do Latim, tenho a edição (a primeira que fiz) de textos de Pedro Hispano, para efeitos da história da Medicina. Durante muitos anos andei pelas bibliotecas da Europa atrás dos escritos de Pedro Hispano. Tanto quanto se sabe, não há nenhum desses escritos em Portugal. Foram livros utilizadíssimos para o ensino, quer na Medicina quer na Filosofia.

 

Onde é que os encontrou?

A maior parte na Inglaterra, mas também em França e na Itália. E, surpreendentemente, uma vez fui à Polónia, com um grupo de historiadores de Medicina de vários países, e o director de uma biblioteca mostrou-nos algumas preciosidades. Uma delas era a matrícula de Copérnico, que estudou em Cracóvia, e a outra era um manuscrito de Pedro Hispano que eu não conhecia. Mas voltando a meu trabalho filológico, a coisa mais importante que fiz foi a edição crítica de Pausânias, para a Biblioteca Teubneriana (uma colecção de edições críticas de textos gregos e latinos) para o qual fui convidada pela Academia das Ciências de Berlim.

 

Passou algum tempo na Alemanha?

Não. Passei por Berlim mas só consegui ir à Alemanha há pouco mais de dez anos. Fui representar Portugal num congresso, em Bona, que era então a capital, na parte relativa às Letras. E aproveitei para ficar mais tempo e ir a Berlim.

 

Mas sabe Alemão...

Estudei no Liceu. Precisamente no ano em que devia começar a estudar uma língua estrangeira, foi introduzida a possibilidade de optar entre o Inglês e o Alemão. E eu pensei que queria estudar as duas e começava pela mais difícil. Foi uma das melhores decisões da minha vida.

 

Wilamowitz e toda a tradição filológica alemã foram importantes para si.

Muito. O professor de quem falei há pouco, que me perguntou se eu sabia traduzir à primeira vista, era alemão, tinha fugido da Alemanha, e tinha sido discípulo de Wilamowitz . A Inglaterra e a Alemanha são os dois países mais importantes no domínio da filologia clássica. É curioso que não sejam os países latinos. Ainda hoje se estuda muito mais Latim e Grego na Alemanha e na Inglaterra do que nos países latinos. Mas essa edição do Pausânias, fi-la sem sair do país. Naquele tempo mandaram-me tudo em microfilmes que eu mandava revelar porque os meus olhos não aguentam aquele tremular das máquinas de ampliar e dos computadores.

 

Trabalhou mais sobre a cultura e os textos gregos do que sobre os latinos...

Sim. Mas também trabalhei razoavelmente sobre a cultura latina. Há um volume que vai sair agora, na Gulbenkian, precisamente sobre a parte romana da cultura clássica.

 

E também traduziu do Latim?

Fiz uma antologia, mais pequena mas comparável à que fiz para os textos gregos.

 

E aqui, em Portugal, no tempo em que foi estudante, quem eram os grandes representantes dos Estudos Clássicos?

Em Lisboa, havia o Epifânio, o José Joaquim Nunes, o Leite de Vasconcelos, que se tornaram mais famosos pelo trabalho dedicado à filologia portuguesa. Aqui, em Coimbra, havia o professor Carlos Ventura, de quem fui Assistente, que aliás me aconselhou vivamente a continuar os estudos em Oxford, numa altura em que aqui ainda não admitiam senhoras.

 

Mas acabaram por admiti-la...

Havia um exemplo ilustre noutra área, Carolina Michaëlis, que foi convidada para ser professora Catedrática. Mas a primeira a prestar provas nesta Universidade fui eu.

 

Sentiu essa prova como uma marca histórica?

Tinha pelo menos a consciência das dificuldades. A secção de Clássicas, com a partida de um professor para Lisboa [o Professor Rebelo Gonçalves], ficou com uma vaga. E o professor Carlos Ventura propôs o meu nome ao Conselho, tinha acabado de chegar de Oxford. Começou aí, não sem dificuldades, a minha carreira académica. Fui integrada num mundo de homens. Tudo isto visto hoje, percebemos como as coisas mudaram muito.

 

O que é bastante relevante no seu trabalho é o facto de se ter desembaraçado de um certo positivismo, da consideração dos textos como meros documentos históricos...

O professor Ventura, de quem fui Assistente, aceitava as minhas ideias. Eu achava que estudar Grego e não fazer ideia nenhuma dos monumentos era uma falta terrível. E pedi-lhe autorização para fazer umas sessões com projecções para mostrar os monumentos de Atenas e de Roma. Mas foi difícil de conseguir porque não havia máquinas de projecção na Faculdade. Tanto que a primeira sessão que fiz foi na Faculdade de Ciências. Mas depois consegui fazer outras já em Letras. Até há uma história curiosa que eu contei há tempos, numa homenagem ao meu falecido colega de Geografia, professor Fernandes Martins. Um professor de Medicina que tinha sido condiscípulo do meu pai, e que era amador de fotografia, tinha uma dessas máquinas muito antigas de projecção e disse-me que me emprestava a máquina mas na condição de ser o professor Fernandes Martins a trabalhar com ela. E este aceitou, o que deixou toda a gente na Faculdade boquiaberta, ao ver um professor a ajudar um assistente.

 

E começou a interessar-se por Arqueologia. E também por vasos gregos...

Arqueologia e Arte. Mais tarde haveria de ensinar História da Arte Grega. E fui comissária científca de uma exposição de vasos gregos, no Museu Nacional de Arqueologia, partindo de uma colecção particular, dos vasos dos próprio museu e também, e onde também havia o vaso da colecção Gulbenkian, que é o melhor de todos. Eu tinha estudado com o professor Beazley, que é o maior especialista mundial de vasos gregos. Foi sempre algo que me fascinou, os vasos gregos, desde a primeira vez em que os vi no Louvre. O meu Director de Estudos, em Oxford, o professor Dodds, disse-me um dia: "não quer ir ouvir o professor Beazley? Olhe que um dia, se disser que esteve em Oxford nesta altura e que não o ouviu, ficarão admirados". E eu comecei a ir às aulas dele. Ele já sabia que tinham aparecido vasos gregos em Alcácer do Sal, os primeiros que apareceram em Portugal.

 

Viajou muito de propósito para ver arte grega nos museus?

Em todos os continentes. Conto-lhe uma pequena anedota. Quando o Metropolitan Museum de Nova Iorque comprou um vaso que é considerado o melhor de todos, por um milhão de dólares, eu, por altura de uma viagem ao Canadá, quis ir também a Nova Iorque para ver o vaso. Tive que pedir um visto no consulado. Na entrevista, a senhora perguntou-me porque é que eu queria ir a Nova Iorque. Eu disse-lhe que queria ver os vasos que estavam no Metropolitan. A senhora achou muito estranho, até eu lhe dizer que era professora de Arte Grega.

 

E à Grécia, tem ido muitas vezes? O que é que sentiu, da primeira vez?

Atenas não é uma cidade belíssima como Roma, por exemplo, porque foi estragada, foi desprezada durante o domínio turco. Mas tem aquela maravilha que é a Acrópole. E quando pela primeira vez me aproximei da Acrópole, era já ao pôr-do-sol e os mármores ficam todos róseos (a cor dos mármores vai mudando conforme a hora do dia), eu quase não acreditava no que estava a ver. Naquele tempo ainda era possível entrar dentro do Parténon. Agora, já não é, senão desfaz-se, com os milhões de turistas. Resistiu a tudo mas não a tanto. E Delfos também é fascinante.

 

Como é que sentiu o diálogo entre os textos literários, a arquitectura e os objectos artísticos?

São inseparáveis. No fundo, trata-se sempre do mesmo sentido do Belo.

 

Quando diz isso, não podemos deixar de pensar em A Origem da Tragédia, de Nietzsche, um filósofo filólogo, e da sua concepção do apolíneo e do dionisíaco.

A Origem da Tragédia é, como alguém disse, um erro genial. O livro do professor Dodds, Os Gregos e o Irracional, abarca também essa questão da diferença entre o dionisíaco e o apolíneo e mostra que ela é muito mais complicada.

 

Mas o que é um facto é que essa oposição funda duas categorias estéticas.

A religião dionisíaca é muito complexa, faz apelo a forças irracionais, sem dúvida, e ao mesmo tempo sai dela uma das mais espantosas criações da civilização grega que é teatro, isto é, as grandes celebrações atenienses em honra de Diónisos eram essas. Por todo o lado têm aparecido tabuinhas que têm a ver com a religião dionisíaca. Esse assunto está ainda muito confuso, tem que ver com a sobrevida no além, há algumas ligações com o orfismo que ainda não estão bem classificadas. Há muitas coisas que nos escapam. Mas que Apolo é o Deus da perfeição, não restam dúvidas.

 

A professora também escreveu muito sobre poetas contemporâneos.

A cultura grega nunca foi para mim algo enterrado historicamente. E por isso trabalhei bastante sobre a sua presença na literatura portuguesa contemporânea, verificando que os melhores poetas contemporâneos têm uma predilecção marcada, um sentido profundo do helenismo: Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, Miguel Torga, etc.

 

Nos últimos anos, sobretudo graças a um conjunto de universitários que têm feito óptimas traduções, o trabalho dos classicistas tornou-se muito mais visível publicamente.

Há de facto um grupo muito bom, tanto aqui em Coimbra como em Lisboa, o que significa que nem tudo está perdido. A verdade é que já há muitos anos começámos a fazer traduções tanto do Grego como do Latim e elas têm tido êxito.

 

As reformas do ensino secundário não têm sido muito favoráveis ao estudo do Latim e do Grego.

Pois não, e sempre que se tem proporcionado, tenho escrito sobre isso. Mas essas reformas também não têm sido muito saudáveis para o Português e para a Matemática. Há matérias que são fundamentais e têm que se aprender pelos caminhos próprios.

 

Neste momento há uma série de constrangimentos que tornam praticamente impossível estudar Latim e Grego no secundário.

Pois, e isso sem dúvida que atrofia os estudos clássicos na universidade. Pelo menos o latim devia ter outra presença no ensino secundário. É aceitável que um aluno vá para Direito sem saber Latim, se o Direito romano está na base do Direito europeu?

 

A cultura grega e latina servem-lhe de mediação para observar o mundo contemporâneo?

Vejo sempre tudo através dessa mediação e vejo que há fenómenos que se repetem, características positivas e negativas dos tempos actuais que também existiram na Antiguidade. Uma coisa por exemplo é a República romana, a chamada Pax Romana, outra coisa é a decadência romana... e verificamos que algo se está a repetir, ao contrário da ideia dos historiadores e que a História não se repete: por exemplo, a perda dos padrões éticos, como no final do Império Romano.

 

quinta-feira, março 12, 2009

Guerra na Antiguidade IV

Com a coordenação de António Ramos dos Santos e José Varandas, o Centro de História da Universidade de Lisboa promove a quarta edição do Colóquio “A Guerra na Antiguidade”, inserido nas linhas de investigação Segurança & Defesa e Mundo Antigo & Memória Global daquele centro. Segundo informação da mesma instituição, “O Colóquio, que se tornou já uma referência no panorama historiográfico nacional, ao propor novos horizontes teóricos, novos problemas metodológicos e novas linhas reflexivas para a análise e compreensão do fenómeno militar no Mundo Antigo, visa uma vez mais o estudo da guerra numa larga diacronia, que parte das civilizações pré-clássicas (Ugarit, Elam, Assíria, Egipto) até chegar ao mundo clássico (Grécia e Roma), sem esquecer os seus inimigos, a Ocidente e a Oriente, finalizando com uma incursão pela Antiguidade Tardia, e conta com a participação de especialistas de várias Universidades (FLUL, FLUC, FCSH-UNL, Univ. Aberta) e outras tantas unidades de investigação científica (CHUL, UNIARQ, CHAM e CECHUC).”
Quinta-feira, 26 de Março de 2009, no Anfiteatro III da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; a entrada é livre, mas para o certificado de presença é necessária inscrição e o pagamento de 5€.

Programa das conferências
Semânticas de guerra na literatura de Ugarit, por José Augusto Ramos
O conflito entre Teumman e Assurbanípal: um episódio nas relações entre o Elam e a Assíria, por Francisco Caramelo
Fidelidade e hierarquia militares sob os Sargónidas, por António Ramos dos Santos
A fortaleza de Buhen: um ponto estratégico no Egipto do Império Médio, por José das Candeias Sales
Uma «guerra de libertação» no Egipto: a expulsão dos Hicsos e o início do Império Novo, por Luís Manuel de Araújo
O cenário de guerra na tragédia euripidiana, por Nuno Simões Rodrigues
Entre a batalha de Salamina e a Guerra do Peloponeso: as bases do império ateniense, por Delfim Ferreira Leão
A geografia das Guerras Lusitanas, por Amílcar Guerra
Dos inimigos de Roma: Boadiceia [sic] e as campanhas de Gaio Suetónio Paulino (59-61 d.C.), por José Varandas
«Ave Cæsar, morituri te salutant!»: As armas dos gladiadores, por Miguel Sanches de Baêna
Comitates e limitanei.
A defesa da fronteira no final do Império Romano, por Pedro Gomes Barbosa

segunda-feira, março 02, 2009

Escavações no centro de Gloucester

Vão começar no fim do mês trabalhos arqueológicos no centro de Gloucester, na Inglaterra, com o objectivo de descobrir a antiga muralha romana da cidade, diz a BBC.

sábado, fevereiro 28, 2009

Tácito e Racine em vez de Andersen e Perrault

Marguerite Yourcenar nasceu em Bruxelas a 8 de Junho de 1903 e foi a primeira mulher a ser eleita para a Academia Francesa, em 1980. A propósito da reedição em língua espanhola do livro Con los Ojos Abiertos: conversaciones con Matthieu Galey, Javier Aparicio Maydeu publica hoje no El País este artigo, de onde se extraem os seguintes passos:
Filtrado por el largo alambique de la cultura clásica aprendida de niña (Tácito y Racine sustituyeron en su infancia a los cuentos de Andersen y Perrault), de sus provechosas lecturas de Proust buscando también las reminiscencias del tiempo perdido y de su querencia por la reescritura de un tiempo pretérito, su interés por la Historia emanada del individuo destila esas apócrifas Memorias de Adriano (1951) que constituyen su obra maestra, modélico relato de la evocación que adopta formas de novela histórica o de epístola moralista, en la que se exhibe espléndida su prosa aristocrática y austera de fraseo aseverativo, escasos adjetivos ("juegan muy malas pasadas"), impecable sintaxis de ecos greco-latinos, discurso autoritario, suntuario, y sutil voluntad epigramática, una prosa argumentativa y pontificadora que transcurre por la página como las espesas aguas de un río. La magia de la palabra evocadora resucita a Adriano, cuya voz solemne fluye en un monólogo fecundo que reflexiona en torno al poder, al amor homosexual o a la memoria personal de las edades del hombre y del paso irremediable del tiempo ("Ciertas porciones de mi vida se asemejan ya a las salas desmanteladas de un palacio demasiado vasto...", "Me esfuerzo por recobrar un instante"), que concluye con la muerte, a la que debemos afrontar sin temor, como reza la frase final, aforística y grave como tantas de las suyas, "Tratemos de entrar en la muerte con los ojos abiertos". Al mismo tiempo que fijaba los cánones de la novela histórica actual y cantaba al hombre solo y dueño de su destino, Yourcenar fue capaz de afianzar para siempre los dominios del soliloquio restaurador del pasado en la narrativa contemporánea, que luego se han visto enriquecidos con En el nombre de la tierra, de Vergílio Ferreira; El libro de familia, de Patrick Modiano; Se está haciendo cada vez más tarde, de Tabucchi, o Elegía, de Philip Roth.
Su pasión por la historia la llevó a reconstruir el Renacimiento en Opus nigrum (1968) a través de la personalidad de Zenón, el alquimista imaginario que Yourcenar se inventa confiriéndole entidad de personaje histórico merced a su infalible empatía lingüística y a una ambientación de época que cuida cada detalle con precisión de arqueólogo. Como sucede en Memorias de Adriano, tampoco aquí importa tanto la intriga cuanto la recreación de una época, ni la acción novelesca adquiere en su narrativa siempre introspectiva el valor que sí tienen en cambio el pensamiento y la conciencia. Yourcenar estima el monólogo porque edifica su obra en torno a la voz, de modo que la palabra sirva entonces al propósito de poner en escena la conciencia de sus personajes, a quienes literalmente les da la palabra, les deja hablar. Su trilogía inacabada El laberinto del mundoRecordatorios (1973), Archivos del norte (1977) y ¿Qué? La eternidad (1988) — va en busca de sus orígenes familiares sin pretensiones autobiográficas ("el público que busca confidencias personales en el libro de un escritor es que no sabe leer"), y sus personajes de ficción son entonces sus antepasados de verdad, pero también a ellos les da la palabra, y habla apenas de sí misma acabada de llegar al mundo, al final de Archivos del norte, con la distancia de la tercera persona pero con la inmensa ternura del recuerdo infantil, "Es demasiado pronto para hablar de ella. Dejémosla dormir sobre las rodillas de Madame Azélie; dejemos que sus ojos nuevos sigan el vuelo de un pájaro". Proust y Tolstói están muy cerca de estas evocaciones familiares nacidas por igual de los archivos y de la invención de la memoria, dispuestas, entre la crónica genealógica y el gran fresco novelesco, "en la inmensidad del tiempo".

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

A idade das palavras

Investigadores da Universidade de Reading, perto de Londres, concluíram quais são as palavras mais antigas da língua inglesa e de outras línguas indo-europeias. Essas palavras, que têm cerca de 40 mil anos, são as correspondentes a “eu”, “nós”, “dois”, e “três”.

A BBC informa que foi através que um modelo computorizado que aqueles investigadores puderam levar a cabo a sua pesquisa, acreditando-se agora que se pode concluir quais as palavras irão desaparecer (por exemplo, “squeeze”, “guts”, “stick”, “bad”) e que se pode datar a utilização de outras: “At the root of the effort is a lexicon of 200 words that is not specific to culture or technology, and is thereby likely to represent concepts that have not changed across nations or millennia”, diz a BBC, que cita Mark Pagel, biólogo evolucionista da mesma universidade: “We have lists of words that linguists have produced for us that tell us if two words in related languages actually derive from a common ancestral word. (…) We have descriptions of the ways we think words change and their ability to change into other words, and those descriptions can be turned into a mathematical language”.

O trabalho, fruto de cooperação entre linguistas, biólogos, e outros especialistas, partiu de relações de palavras “in order to develop estimates of how long ago a given ancestral word diverged in two different languages. They have integrated that into an algorithm that will produce a list of words relevant to a given date. ‘You type in a date in the past or in the future and it will give you a list of words that would have changed going back in time or will change going into the future,’ Professor Pagel told BBC News. ‘From that list you can derive a phrasebook of words you could use if you tried to show up and talk to, for example, William the Conqueror. There's lots of words he wouldn't have understood — like ‘big’, ‘bird’, ‘heavy’, and 'here'. The words he would've used would've derived from a different common ancestral word to the English words that we're using today.’”

Os resultados da investigação permitem ainda saber a frequência com que uma palavra é usada e a velocidade com que varia através do tempo. Daqui decorre que, como já se previa, as palavras mais comuns são as mais antigas: “For example, the words ‘I’ and ‘who’ are among the oldest, along with the numbers ‘two’, ‘three’, and ‘five’. The number ‘one’ is only slightly younger. The number ‘four’ experienced a linguistic evolutionary leap that makes it significantly younger in English and different from other Indo-European languages.”

Em contrapartida, as palavras que têm mais variação são as que poderão desaparecer mais depressa, sendo substituídas por outras: “For example, ‘dirty’ is a very rapidly changing word; there are 46 different ways of saying it in the Indo-European languages, all words that are unrelated to each other. As a result, it is likely to die out soon, along with ‘stick’ and ‘guts’. Verbs also tend to change quite quickly, so ‘push’, ‘turn’, ‘wipe’ and ‘stab’ appear to be heading for the lexicographer's chopping block.”

O Professor Pagel afirmou também que algumas destas palavras devem ter pelo menos 40 mil anos: “The sound used to make those words would have been used by all speakers of the Indo-European languages throughout history. (…) Here’s a sound that has been connected to a meaning — and it's a mostly arbitrary connection — yet that sound has persisted for those tens of thousands of years.” A teoria assim exposta confirma a crença, desde Saussure, de que o signo linguístico é arbitrário: “The work casts an interesting light on the connection between concepts and language in the human brain, and provides an interesting insight into the evolution of a dynamic set of words.”

O trabalho desenvolvido por esta equipa de investigadores pode ser experimentado neste endereço.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

A Eneida na ficção científica moderna

Excerto do texto de Charlotte Higgins no blogue On Culture, do Guardian:

Battlestar Galactica revealed as the new Virgil's Aeneid

Adama is Aeneas, fleeing Troy to find the prophesied new home for his people...

(...) Now, am I the only person who regards the sweep of the story of the sci-fi series Battlestar Galactica as a kind of re-reading of Virgil's Aeneid? I am talking, of course, of the great Roman epic poem that recounts the flight of Aeneas and his followers from their conquered city of Troy to Italy, where, it is prophesied, their descendants will found Rome.
(...) A leader leaves the destroyed wreck of his former civilisation (Troy/Caprica), which has been blasted into smithereens by an invading force (Greeks/Cylons). You might even see Gaius Baltar as a sort of Trojan horse. That leader is accompanied by his son: it's Adama as Aeneas, and Apollo as Ascanius, if you follow me.
On they forge, guided by prophecies that the leader is initially unwilling to accept, towards their fated new home (Adama, like Aeneas in Aeneid book two, needs some persuasion that the various portents pointing the way are of any value.)
Need I remind you that we're constantly getting heavy hints as to the classical origins of our story via the theology of the humans of Battlestar Galactica, who worship the Olympian pantheon of Zeus, Hera et al?
Tentatively, I'd suggest Starbuck's return to Caprica to collect the arrow of Apollo as akin to the visit to the Underworld in Aeneid book six. The arrow of Apollo as the golden bough?
The unsuccessful stay in New Caprica, of course, recalls the settlement the wandering Trojans found on Crete in book three, in the mistaken assumption that this is the fated new land. (And it is also reminiscent of the section in book five where the comrades build a settlement on Sicily for those who are weary of the journey).
One might argue that Helena Cain is a kind of reversed Dido (Aeneid book four); the eventually destroyed Pegasus might be seen as her funeral pyre.
I could go on. I have my own ideas about how the second part of the final series is going to pan out (please don't ruin it for me). As long as our friends remember "parcere subiectis et debellare superbos".

domingo, fevereiro 22, 2009

A autoridade dos mitos

A tradução espanhola do livro de George Steiner Antígonas (que em Portugal está publicado pela Relógio d’Água) mereceu de Carlos García Gual um artigo no El País:

La inquebrantable autoridad de los mitos griegos

Ensayo. El subtítulo de la edición de bolsillo: La travesía de un mito universal por la historia de Occidente me parece menos adecuado que el de la versión anterior de 1987: Una poética y una filosofía de la lectura. Porque Antígona no es un mito universal, sino, más bien, un episodio trágico de una saga mítica griega (la de la familia de Edipo), invención dramática de Sófocles, integrado en un mito de resonancia universal. Pero, en fin, no seamos puntillosos y felicitémonos de la reedición de este espléndido ensayo, ejemplar y casi clásico, que examina y sopesa los ecos del drama sofocleo en la literatura y la filosofía occidental "en el contexto de una poética de la lectura". No es, como Steiner, advierte, un mero recorrido de las numerosas Antígonas posteriores — desde la de Eurípides y Accio a las de Anouilh y Brecht, y algunas más —, sino algo mucho más interesante, un estudio hermenéutico y de literatura comparada de largo alcance intelectual, con una cuestión trascendente como telón de fondo: "¿A qué se debe la inquebrantable autoridad que los mitos griegos ejercen sobre la imaginación de Occidente? ¿Por qué un puñado de mitos griegos, el de Antígona entre ellos, reaparece en el arte del siglo XX en un sentido casi obsesivo? ¿Por qué Edipo, Prometeo, Orestes, Narciso, no quedan relegados a la arqueología?".

Desde el 430 antes de Cristo en que Sófocles representó su Antígona en el teatro de Dioniso, el enfrentamiento entre la hija de Edipo y el tirano Creonte se ha visto multiplicado en dramas y óperas, y, con no menor impacto, en discusiones filosóficas memorables. Hegel, Goethe, Kierkegaard y Hölderlin merecen un lugar de honor que aquí se les da en la larga lista de intérpretes del duelo entre la princesa que defiende el honor de la familia y el rey que afirma la ley de la ciudad contra el príncipe que intentó destruirla. Ardua es la polémica sobre quién es el verdadero héroe trágico: la joven que trata de enterrar al hermano amado, o el rey implacable en hacer cumplir a toda costa su decreto patriótico. Lo trágico, según Hegel, es que los dos tienen razón, y, como uno y otra se empecinan en sus tesis, el agón desemboca en la mutua destrucción. En el primer capítulo Steiner se ocupa a fondo de esos filósofos y poetas. En los siguientes resume la larga impronta de la obra en la literatura universal de las numerosas Antígonas de los últimos siglos, y analiza los dilemas y motivos que dan a su argumento su perenne vivacidad, su impresionante fuerza teatral. En Antígona resuenan, subraya Steiner, como en ninguna otra obra, las constantes eternas de conflicto de la condición humana. "Son cinco: el enfrentamiento entre hombres y mujeres; entre la senectud y la juventud; entre la sociedad y el individuo; entre los vivos y los muertos; entre los hombres y Dios (o los dioses)". En los diálogos y los cantos del coro emergen con inolvidable poesía.

Los mitos griegos — a diferencia de los dogmas — invitan a renovadas y múltiples reinterpretaciones, y se enriquecen con ellas. La tradición literaria recrea una y otra vez los míticos relatos, herencia común del imaginario europeo a la par que incesante desafío. El autor de Después de Babel [também publicado em Portugal pela Relógio d’Água] insiste de nuevo en los riesgos de sus traducciones, de sus puestas en escena, de sus imágenes poéticas, y subraya cómo leer a un clásico es siempre revivir sus palabras desde nuestro contexto histórico, entenderlo al socaire de otras lecturas. Leemos a un Sófocles impregnado de Anouilh y de Brecht y de Hegel. Más original que esta perspectiva es este fervor por releer a fondo, en una lectura lenta, poética y apasionada. "Retornar al mundo griego y a sus mitos significa dar a nuestros recursos de expresión algo del lustre y el filo cortante de los comienzos... Para nosotros tienen la autoridad de la aurora". El estilo sentencioso, entusiasta y brillante de G. Steiner -más en esta etapa que en sus últimos escritos- contagia al lector. Releo su texto unos veinte años después y me sigue atrapando su apasionante exégesis. (Hoy recomendaría empezar la lectura por el capítulo segundo, menos filosófico). Antígonas sigue siendo un magistral ensayo sobre el mito y la tragedia y su fecunda estela en la literatura y el pensamiento occidental.

Antígonas. La travesía de un mito universal por la historia de Occidente
George Steiner
Traducción de Alberto L. Bixio
Gedisa. Barcelona, 2009
372 páginas. 18,50 euros

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

César, Virgílio, Joviano, António e o mosaico mais belo do império

Notícia do PÚBLICO.

César, Virgílio, Joviano, António e o mosaico mais belo do império

16.02.2009

Um mosaico romano de características únicas foi encontrado em Alter do Chão. É do século IV e representa o último canto da Eneida. Em ano eleitoral, a obra de Virgílio poderá fazer pelo presidente
da câmara, Joviano Vitorino, o que, há dois mil anos, fez pelo imperador César Augusto. Vai poder ser visto a partir de 21 de Maio. Por Paulo Moura (texto) e João Henriques (fotos)

Caio Júlio César Otaviano Augusto, em Roma, à semelhança de Joviano Vitorino, em Alter do Chão, precisava de consolidar o seu poder. A república tinha-se transformado em império, em 23 a.C., e, para o manter unido e submisso, era importante criar uma mitologia, uma epopeia e uma crença na natureza divina do poder imperial.
César chamou um poeta com provas dadas, Virgílio. Ou melhor: pediu a um amigo, também seu conselheiro e agente diplomático, muito rico e que gostava de apoiar as artes, um mecenas, que falasse com Virgílio. O mecenas que, não por acaso, se chamava Mecenas, pagou ao poeta para escrever uma obra melhor do que a Ilíada e a Odisseia juntas. No ano 19 a.C., o mesmo em que morreu, Virgílio compôs então a Eneida, um poema épico em 12 cantos que começa, mil anos depois, onde a Ilíada termina - a queda da cidade de Tróia.
Os primeiros seis cantos da Eneida, aliás, emulam a Odisseia, em termos de enredo e também na forma, enquanto a primeira parte da obra imita a Ilíada. Tudo junto, garantia Virgílio, superava a obra de Homero. Mas não a ignorava. Através de um sistema de referências a que os literatos chamam intertextualidade, alimentava-se dela. São comuns algumas personagens, bem como locais e eventos, para que ao leitor que conheça a Ilíada e a Odisseia esteja acessível uma fruição superior da própria Eneida.
Ao contrário do que se passa na Odisseia, protagonizada por um grego (Ulisses), o herói da obra de Virgílio é Eneias, um troiano que, a pedido da sua ilustre mãe, foge, após a destruição da cidade pelos gregos, com o objectivo de erguer uma nova cidade, uma nova Tróia, que será Roma. Eneias era um rapaz de boas famílias: o pai era Anquises, um príncipe troiano, mas a mãe era nada menos do que a deusa Vénus, que tivera com o mortal Anquises uma aventura extraconjugal. Também estava muito bem relacionado: o seu escudo foi construído por Vulcano, marido de Vénus e deus do fogo (à semelhança do que acontece com o escudo de Aquiles, na Ilíada), frequentava a casa de Plutão, o guardião dos Infernos, e aconselhava-se regularmente com Júpiter, o deus dos deuses.
Após muitas peripécias, guiado por um oráculo, Eneias chega à Itália. Aí, tem de combater o rei dos rútulos, Turno, a quem tinha sido prometida a mão de Lavínia, filha de outro líder local, Latino, rei dos latinos. Mas um oráculo aconselhara Latino a aceitar como genro um guerreiro estrangeiro. Eneias conta então com a ajuda de Latino e, protegido com o escudo forjado por Vulcano (onde estão gravados todos os acontecimentos da futura História de Roma), e aconselhado por um génio do rio Tibre, vence, numa luta corpo a corpo, o rei Turno. Tombado no chão, este implora pela sua vida, mas Eneias, após um momento de hesitação, trespassa-o com a espada. Desposa Lavínia, e o seu filho Ascânio, neto de Anquises e Vénus, será o avô dos futuros reis de Roma, que assim vêem garantida uma linhagem divina e uma História mítica, ligada aos gregos e aos povos da Itália. Virgílio cumpriu a sua missão, o imperador César Augusto ficou satisfeito.
A Casa da Medusa
Jorge António encontrou primeiro a cabeça de uma estátua de mármore representando uma rapariga. O penteado, em longas tranças puxadas para trás e apanhadas em rabo de cavalo, denuncia a moda da sua época. Basta averiguar quando se usava aquele visual feminino, e saberemos a que período pertence a estátua. Foi isto que pensou Jorge António, que é natural de Faro e arqueólogo da Câmara Municipal de Alter do Chão.
Uma coisa era certa: a presença da escultura era sinal da existência de uma casa muito rica, uma verdadeira domus. Até agora, já tinha sido descoberta a base de uma outra estátua, de Apolo, perto de uma zona de balneários termais, daquela que terá sido uma importante cidade romana e está hoje soterrada sob a vila alentejana de Alter do Chão. A cidade chamava-se Abelterium e começou a ser escavada em 1954. A estação arqueológica desenvolveu-se na área entre o campo de futebol, uns terrenos pertencentes à coudelaria, e o pavilhão desportivo que viria a ser construído. Tornou-se perfeitamente visível a zona do hipocausto, onde o ar aquecido por uma fornalha de lenha circulava por baixo do chão, a do frigidário, onde corria água fria, a zona de massagens e a latrina comunitária. No decorrer das escavações, surgiria também a necrópole, onde, a julgar pelo luxo dos objectos depositados junto a cada corpo, estariam sepultados os elementos da elite da sociedade romana da época. Tudo levava a crer, portanto, estar-se na presença de uma grande cidade - uma civitas, e não um simples vicus (povoado).
Jorge António, 38 anos, trabalha há oito na Câmara de Alter do Chão. Concluíra a licenciatura em História e Arqueologia na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e estava desempregado. Enviou um currículo para a Câmara de Alter e conseguiu o lugar. Logo nesse ano de 2001, elaborou um projecto para a Estação Arqueológica de Ferragial d'El Rei, que só viria a ser aprovado em 2004. Foi nessa altura, com alguns apoios financeiros, que se iniciaram os trabalhos.
No seu Gabinete de Arqueologia, instalado em duas salas do edifício do Cineteatro de Alter do Chão, Jorge armazena, organiza e estuda os achados dos últimos anos, distribuídos por caixas rotuladas - "Fragmentos de estuque", "Elementos de adorno", "Cerâmica comum", "Moeda", "Vidro", "Aplicações para mobiliário", "Têxteis", "Lazer", "Iluminação doméstica"... Sobre uma mesa, o esqueleto quase completo de um homem, sepultado há cerca de 1500 anos. Tinha 1m e 62 cm de altura, entre 40 e 49 anos à data da morte, e era rico. É o que se sabe sobre ele.
Com estes elementos, e mais alguns fragmentos de estátuas, de frescos, de paredes, Jorge António ia imaginando a cidade que existiu naquele lugar, e que, a jugar pelos vestígios, nunca foi propriamente abandonada, até hoje. Terá havido uma continuidade de ocupação, desde as povoações pré-romanas, as visigóticas, árabes, cristãs, até ao castelo, construído em 1349 por D. Pedro, e à actual vila de Alter do Chão.
Mas foi há um ano e meio que fez a grande descoberta.
O mosaico
Perto do local onde encontrara a cabeça feminina, em mármore, viu surgir a figura de Eneias, composta em minúsculas tesselas de calcário colorido e outras de pasta vítrea, azuis, verdes e amarelas. Foi alargando a área exposta e trouxe à luz o imenso mosaico, de 53 metros quadrados, constituído por uma moldura geométrica e uma zona figurativa de inédito esplendor. Eneias, com o seu penacho característico, quebrado por ter sido atingido por uma lança. Dos dois lados do painel, frente a frente, guerreiros gregos e frígios, definidos pelos respectivos capacetes. Entre as duas hostes, um medalhão com a figura da Medusa. Ao centro do painel, prostrado aos pés de Eneias, o rei Turno, implorando pela sua vida. Em baixo, à direita, a figura de Vulcano, cuspindo fogo, e à esquerda a do génio do Tibre, de cujo jarro verte a água do rio, representada em tesselas de pasta vítrea azul e verde.
"A cena representa o último canto da Eneida", explica ao P2 Teresa Caetano, investigadora do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa e da Associação de Investigação e Estudo do Mosaico Antigo e da Associação Portuguesa para o Estudo e Conservação do Mosaico Antigo. "Turno está a pedir a Eneias que lhe salve a vida", diz a especialista, que já está a estudar o achado de Alter do Chão. "Há o deus Tibre, representado por um génio do rio, apoiado num vaso que deita água. Do outro lado está Vulcano, amigo da mãe de Eneias, que era Vénus, secando o rio, afrontando o génio do Tibre..."
Teresa Caetano nunca tinha visto um mosaico como este. Não há, no país, nem na península, nem talvez no mundo, mais nenhum desta qualidade e neste estado de conservação. O estudo, que vai durar, pelo menos, até ao final deste ano, ainda está no início. Mas já é possível tirar algumas conclusões: o mosaico é do século IV, do império romano tardio, e pertencia a uma casa muito rica. Naquela altura, como reacção ao cristianismo que alastrava, tornaram-se moda, entre os romanos não-cristãos, os mosaicos com motivos da Ilíada, Odisseia ou Eneida. Os homens ricos e influentes do mundo romano faziam questão de ostentar uma profunda cultura clássica, e uma ligação aos valores pagãos, que consideravam superiores aos do cristianismo. Era uma demonstração de status e poder.
Nada se sabe sobre o homem que mandou construir o mosaico de Abelterium, excepto que era muito rico e culto e que teria uma grande importância na cidade. O mosaico terá custado uma fortuna. Não foi feito, decerto, por um artista da região, porque não havia na península, que se saiba, uma escola com tal mestria. Mas sobre isto há várias teorias. Jorge António fala de artistas itinerantes que iam de casa em casa, com um catálogo de imagens. Teresa Caetano imagina uma espécie de "multinacional" da arte do mosaico, que teria "sucursais" em vários pontos do império. As próprias tesselas, que alguns historiadores pensavam serem feitas com materiais de cada local, parece afinal que eram produzidas numa mesma "fábrica", e transportadas de barco para as várias regiões. Os despojos de um navio, carregado de tesselas coloridas, naufragado ao largo das Berlengas, vieram confirmar esta teoria.
A maior parte dos mosaicos eram feitos por artesãos, que copiavam as imagens concebidas pelos "designers" da "multinacional", com ligeiras adaptações. Não terá sido o caso do painel de Alter do Chão. "A riqueza de pormenores, as sombras, a musculação, a própria técnica da perspectiva" denunciam a presença de um artista. Um verdadeiro pictor imaginarius, que terá vindo expressamente de Emerita Augusta (Mérida), capital da Lusitânia, ou mesmo de Roma, para produzir a obra na casa do magnata de Abelterium. Era um mestre, que se faria pagar a peso de ouro, mas terá desenhado o que o seu cliente pediu, como era normal na época. Mais ou menos pasta vítrea, para os detalhes dos olhos, a água ou o fogo, mais uma cena mitológica, mais uma personagem, tudo isto era decidido por artista e cliente, numa discussão erudita de quem dominava os clássicos.
Jorge António não duvida de que o proprietário da sua Casa da Medusa, como baptizou a domus do mosaico, era um homem culto. Entre as várias divisões que descobriu, conta-se um escritório (tablinum), o que mostra tratar-se de um intelectual. Desta divisão sai um corredor que liga aos quartos, ao peristilo - o jardim interior - e ao triclinium, ou sala de jantar, coberto pelo mosaico da Eneida.
"A casa deveria ter pelo menos o dobro do tamanho do que está à vista e, provavelmente, um segundo andar", explica Jorge António. "Era aqui que o dono recebia os seus convidados para jantar", continua, caminhando sobre o mosaico. "Ao centro ficava a mesa e aqui, à volta, os sofás, onde as pessoas se deitavam, como é descrito no Banquete de Trimalquião, de Satiricon", prossegue o arqueólogo municipal, que considera "urgente" continuar as escavações, e preservar os tesouros encontrados, não obstante a descoberta do mosaico ter ocorrido há um ano e meio e só agora ter sido divulgada. "Era um homem muito importante. Um aristocrata, um sacerdote. Talvez um político."
A epopeia de Joviano
Está a chover. A água infiltra-se nos interstícios das tesselas, fazendo-as saltar dos seus lugares. Joviano Vitorino, 50 anos, lembra-se de vir para aqui brincar, quando era miúdo. A escola que frequentava, na aldeia da Cunheira, tinha 80 alunos. Hoje, não tem nenhum, e fechou. "Lembro-me de vir a Alter, de fatinho, fazer o exame da 4ª classe, em 1968. Brincávamos sobre as ruínas, levávamos pedras para casa." Alter do Chão tinha na altura dez mil habitantes. Hoje, tem quatro mil. "O poder central tem de começar a olhar para o interior do país de forma diferente", diz Joviano Vitorino, que é hoje presidente da Câmara de Alter do Chão, eleito pelo PSD. "A nossa riqueza arqueológica tem um potencial enorme, e a descoberta deste mosaico veio trazer outra dinâmica ao nosso projecto."
O projecto, a epopeia de Joviano Vitorino, é classificar Abelterium como Monumento Nacional, criar o Centro Interpretativo da Estação Arqueológica, no 1º andar do Cineteatro, o Clube do Património, para trazer estudantes à estação, um núcleo museológico, o Corredor do Tempo, para as crianças, e uma cobertura especial para o mosaico da Casa da Medusa. Parte deste equipamento vai ser inaugurado no próximo dia 21 de Maio. Haverá também merchandizing - t-shirts, bonés, posters com réplicas do mosaico - e ainda uma piscina descoberta, um pavilhão desportivo e um estádio.
"Tudo isto atrairá turistas e criará empregos na região", explica o autarca, que espera obter fundos governamentais para o projecto. "Precisamos de milhares de euros, e vamos passar a bola da responsabilidade."
Um grupo de dissidentes do PSD tem sido muito crítico das acções de Joviano, e ameaçou desafiá-lo, nas eleições autárquicas deste ano, talvez apoiando o candidato do PS. Mas Joviano tem agora um trunfo que crê ser imbatível: o mosaico. O timing é perfeito.
"Vai ser inaugurada a IC13, que liga Portalegre a Alcochete. Ficaremos a uma hora e meia de Lisboa", diz Joviano Vitorino. Não há razão para que o mosaico seja levado para um museu da capital. "Não deixo que ele saia. Isto tem uma importância arqueológica enorme", diz o autarca, que entretanto se tornou especialista em cultura clássica. "Só por cima do meu cadáver."

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

“São precisos professores que gostem de ler”

Carlos Reis, coordenador da equipa que apresentou os novos programas de Português para o ensino básico (actualmente em discussão pública) deu uma entrevista ao jornal Público. Realçam-se algumas das suas afirmações:

Não se pode, naturalmente, generalizar, mas há muitos professores — não só, mas principalmente os que saíram dos institutos politécnicos — que foram formados à luz de uma concepção... eu diria... muito desenvolta, muito expedita do que é falar e escrever em português.
Aquela coisa de “se o menino erra tem de se valorizar o erro, a expressividade...”. Sou completamente contra isso. Um erro é um erro, em Português como em Matemática. Se no discurso corrente, quotidiano, o sujeito não concorda com o predicado, isso é um erro.

Actualmente, os poucos textos literários apresentados aos alunos são utilizados como textos ilustrativos de coisas que têm pouco que ver com a literatura. Usar um soneto de Camões para explicar o que é o discurso argumentativo, por exemplo, é matar o soneto de Camões. Ele tem de ser percebido pelos alunos como uma grande peça lírica, que representa e modeliza uma emoção, uma visão do mundo, um sentimento.

Para termos alunos que gostem de ler são precisos professores que gostem de ler, que entendam a literatura como um domínio de representação cultural com uma grande dignidade e com uma enorme capacidade de nos enriquecer do ponto de vista humano. Claro que isto ultrapassa, em muito, a esfera de actuação de quem prepara programas de Português, e está intimamente relacionado com a actual crise das Humanidades. (...) Nem toda a gente tem de ler Platão e de traduzir latim. Mas está à vista que a hipervalorização, às vezes até um bocadinho provinciana, das tecnologias traz consigo lacunas consideráveis na forma de olharmos para o outro, de pensarmos no que é justo ou injusto, no que é solidário e não o é, no que é bonito e no que é feio — e que encontramos na Literatura, na História, na Filosofia.... A recuperação do atraso científico e tecnológico não deve ser feita à custa da desqualificação — política, até — de outras componentes da nossa cultura.

A entrevista pode ser lida na íntegra aqui.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

O Oráculo de Delos


A Grécia temeu Apolo, mesmo antes de ele nascer. Sentindo já as dores do parto, Leto vagueava pelas terras e as ilhas do Egeu: era a mais delicada das deusas e possuía já todas as qualidades que o filho viria violentamente a ignorar. Pediu abrigo, mas as terras e as ilhas já conheciam Apolo antes de ele nascer e tremiam à ideia de o verem pisar o seu solo. Recusaram, e o deus sentiu a dor e a dificuldade de vir ao mundo, como os seres humanos. Por fim, Leto dirigiu-se a Delos, a ilha mais pequena e mais obscura de todas as ilhas do Egeu. Ofereceu-lhe um templo. Delos também receava. Receava que o jovem deus a desprezasse e, calcando-a com os pés, a fizesse desaparecer nas águas do mar: se assim fosse, as ondas submergi-la-iam, os polvos fariam os seus covis por cima dela, as focas habitariam na sua superfície deserta. Leto jurou: "Aqui, haverá sempre o perfumado altar de Febo e o seu santuário, e ele honrar-te-á mais do que a qualquer outra terra". Só então Delos aceitou receber a mãe e o filho.

Pietro Citati