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"Eu não era um erudito. Tal como muitos, ou a maioria, dos estudantes da minha geração, li O Banquete de Platão. Achei-o muito divertido. Mas fui levado por Ravelstein a relê-lo. Não propriamente levado. Mas se estivéssemos continuamente na sua companhia éramos repetidamente remetidos para O Banquete. Ser-se humano era ser-se mutilado, amputado. O homem é incompleto. Zeus é um tirano. O Monte Olimpo é uma tirania. O trabalho da humanidade no seu estado amputado é percorrer a metade que falta. E, após tantas gerações, a nossa verdadeira metade simplesmente não é encontrada. Eros é uma compensação outorgada por Zeus - provavelmente por motivos políticos próprios. E a busca pela nossa outra metade é em vão. O encontro sexual permite um temporário esquecimento de nós próprios, mas a dolorosa consciência da nossa mutilação é permanente."
Saul Bellow, Ravelstein, Lisboa, 2001 (trad. Rui Zink)
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