terça-feira, janeiro 27, 2009

Platão, República, II, 370b-c


Sara Saudková

οὐ γὰρ οἶμαι ἐθέλει τὸ πραττόμενον τὴν τοῦ πράττοντος σχολὴν περιμένειν, ἀλλ᾽ ἀνάγκη τὸν πράττοντα τῷ πραττομένῳ [370ξ] ἐπακολουθεῖν μὴ ἐν παρέργου μέρει.

É que, creio eu, a obra não espera pelo lazer do obreiro, mas a força é que o obreiro acompanhe o seu trabalho, sem ser à maneira de um passatempo.

(trad. Rocha Pereira)

domingo, janeiro 25, 2009

Pena é que saiba latim

«A trigueirinha estudou a sua lição, e o Rei ajudou-lhe a pronunciar os ditongos. Sua Majestade sabia regularmente a língua francesa e espanhola. A italiana ensinou-lha, vinte anos depois, a actriz Petronilla, a quem deu presentes que carregaram trinta cavalgaduras quando a cantora se fez na volta de Espanha, diz o Cavalheiro de Oliveira. D. António Caetano de Sousa, na História Genealógica da Casa Real, tom. VIII, pág. 4, diz que o Rei sabia também latim com perfeita inteligência. De um sujeito que lia Horácio e Cícero, dizia Bocage: "Pena é que saiba latim, pois perdeu-se um parvo grande!" D. João V, ainda com latim, não era parvo pequeno nem perdido.»


Camilo Castelo Branco, A Caveira da Mártir, Obras Completas, Vol. VII, Lello, Porto, 1987, p. 1042

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Honoris Causa

Maria Helena da Rocha Pereira, Professora Catedrática Jubilada da Universidade de Coimbra, recebe hoje as insígnias honoris causa da Universidade de Lisboa. O Professor Raul Rosado Fernandes é o seu padrinho. A cerimónia decorre na Aula Magna da Reitoria da UL às 15h.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

O Fulgor da Grécia

O Prof. Doutor José Pedro Serra, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, é o responsável pelas conferências que realizarão todas as quartas-feiras de Fevereiro às 18h30, na sala 2 da Culturgest (entrada livre). O Fulgor da Grécia: o olhar, a palavra, o gesto tem quatro sessões: "Homero ou o canto da vida heróica" (dia 4), "No espelho da tragédia" (dia 11), "Dioniso: Sol negro entre os olímpicos" (dia 18), "Ao tear do tempo: Atenas e Jerusalém" (dia 25).

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Monumento funerário do século VI d.C. em Mértola (Complemento)

«Foi descoberto, em Mértola, um mausoléu do século VI d.C. "único no Ocidente", que terá servido para sepultar "pessoas importantes" de origem grega. Esta descoberta arqueológica testemunha a presença de orientais em Mértola antes da islamização. Foi encontrado durante as obras de remodelação do Eixo Comercial de Mértola, na Rua Afonso Costa, junto à GNR.
Trata-se de "um mausoléu fantástico, absolutamente fora de série" e "o único edifício mortuário do género achado em todo o Ocidente do Mediterrâneo, onde, até agora, não há nenhum parecido", afirma Cláudio Torres.»


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domingo, janeiro 04, 2009

Monumento funerário do século VI d.C. em Mértola

A notícia já tem algumas semanas, mas antes tarde que nunca. Uma importantíssima descoberta arquológica em Mértola: um monumento funerário do século VI d.C. Notícia áudio e texto na TSF.

Puro Séneca e Platão


Quem se não calou foi António de Cavide. O Rei leu a carta do ouvidor, espremeu em contrafeito riso o fel do despeito, mascou umas palavras regougadas, e, atirando a carta com desprezo ao manteeiro, disse afinal:
- Foi educada pelo padre Luís da Silveira...
- Nunca se disse tão conceituosa frase, meu senhor! - exclamou o ministro batendo as palmas com o estúpido entusiasmo da lisonja. E repetiu: - Foi educada pelo padre Luís da Silveira! Admirável, e digno de Juvenal, de Marcial, e... de Vossa Majestade!
- E que monta ser rei quando se é frágil como qualquer homem! - disse D. João IV com direito aos louvores do valido meditabundo.
- Estou pensando, real senhor!... - disse o ministro. - Vossa Majestade nestas poucas expressões compendiou um livro: E que monta ser rei quando se é frágil como qualquer homem!? Puro Séneca e Platão!...


Camilo Castelo Branco, A filha do regicida, Obras Completas, Vol. VII, Lello & Irmão, Porto, 1987, p. 887

sábado, janeiro 03, 2009

Para falar menos e melhor

O programa Today é um dos mais conhecidos e aclamados da BBC Radio 4. A seguir ao natal, esteve em estúdio o padre que traduz os textos da Igreja Católica para latim (tarefa que fez já sob diferentes papas, pois que a cumpre há 40 anos). Reginald Foster afirmou que se o papa usasse o latim nos seus discursos falava menos e com mais rigor, sem subterfúgios, pois a língua latina não permite a vacuidade e os devaneios do politiquês (para ouvir aqui).

Ao ouvir o Padre Foster (que já tinha sido notícia na BBC por causa da sua preocupação com o desaparecimento do latim) a falar, recordei este passo de A Educação Sentimental, de Gustave Flaubert, quando Frédéric, logo a seguir à proclamação da República em 1848, se encontra a assistir a uma reunião do clube “dos inteligentes” (‘clube’ neste contexto significa ‘partido político’):

— Michel-Evariste-Népomucène Vicent, ex-professor, exprime o voto no sentido de a democracia europeia adoptar a unidade de linguagem. Poderíamos servir-nos de uma língua morta, como por exemplo o latim aperfeiçoado.
— Não! Latim, não! — exclamou o arquitecto.
— Porquê? — replicou um professor.
E os dois cavalheiros envolveram-se numa discussão, a que todos se associaram, cada um lançando a sua frase para deslumbrar, e que não tardou a tornar-se tão fastidiosa que muitos se retiraram.

Usei a tradução de João Costa (Lisboa: Relógio d'Água, 2008), 245.