Notícia do Público, por Nicolau Ferreira:
O património do Concelho de Oeiras pode vir a ficar com mais uma área de interesse arqueológico. Durante Julho foi feita a prospecção da vila romana de Leião, perto de Porto Salvo, conhecida desde a década de setenta do século passado.“Trata-se de uma zona com 100 metros por 80, quase a área de um campo de futebol”, explica por telefone ao PÚBLICO João Luís Cardoso, director do Centro de Estudos Arqueológicos da Concelho de Oeiras.Apesar de já se conhecer a existência do local há décadas, o risco de se urbanizar uma área que até agora só tinha sido cultivada, torna urgente a necessidade de conhecê-la cientificamente e verificar o grau de importância da vila. “É um local absolutamente intacto. Não há construção ulterior ao abandono da vila”, explica o arqueólogo que também é professor catedrático da Universidade Aberta.Durante o mês de Julho, uma equipa formada pelo Centro de Estudos Arqueológicos do concelho, pelo GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente do por estudantes e professores de arqueologia estudaram o local. A Câmara de Oeiras apoiou o projecto com dez mil euros.Houve recolha de material à superfície e posteriormente uma empresa alemã contratada, utilizou a técnica do sonar, para fazer uma sondagem ao solo. “O georadar permitiu a identificação de estruturas arqueológicas enterradas”, disse o especialista. E o que se viu foram muros ortogonais, que “aparentam configurar a parte urbana da vila”. Para além disso sabe-se que existem fragmentos de estuque pintados e placas de mármore de revestimento.À volta da capital Olisipo, o nome romano da cidade de Lisboa, foram edificadas muitas vilas, que cultivavam terrenos à volta. Cada vila romana continha uma parte rural e uma propriedade urbana, onde vivia o proprietário e que tinha várias construções.Existem vestígios que datam de uma altura imediatamente anterior à chegada dos romanos à região, entre os séculos III e I antes de Cristo. “Estas vilas podem estender-se até ao século IV ou V depois de Cristo”, explica o arqueólogo. Mas ainda se sabe muito pouco.Toda a prospecção feita até agora foi não intrusiva. Em Setembro iniciam-se as escavações para se perceber o grau de importância do local. Se estiver bem preservado, para além do valor científico, pode tornar-se numa área de interesse arqueológico, com importância do ponto de vista cultural e educacional.“Tudo indica que pode vir ser uma área de interesse arqueológico”, explica o arqueólogo. Perto da região, o achado só é comparável à vila romana de Freiria, no Concelho de Cascais e a uma vila romana que está debaixo de um edifício do século XVIII do centro histórico de Oeiras.O relatório final está previsto para 2009. Cabe ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico avaliar se a área deve ser só preservada por registo documental ou se a sua importância patrimonial e científica justifica a delimitação de uma área de interesse arqueológico. Nesse caso, qualquer construção teria de respeitar o traçado da vila romana, que poderia ser integrada no circuito turístico e cultural do concelho e do país.
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