As Instituições da Lingua Arabiga, do franciscano setecentista António Baptista, constituem uma extraordinária oportunidade para se perceber como o Árabe era recebido no Portugal do século XVIII. Publicadas em 1754, fazem uma cuidada descrição da língua árabe, entrando até em pormenores mais habituais nas gramáticas modernas, como a divisão dos fonemas em categorias (ainda que nem sempre as mesmas que hoje usamos). O texto, em PDF ou JPG, está livremente acessível na página da Biblioteca Nacional Digital.
Um dos aspectos mais interessantes destas Instituições é a separação que fazem entre "árabes" e "mouros", que vai ao pormenor - importantíssimo para nós, "andaluzes" - de distinguir a escrita "levantina" (isto é: a escrita padrão) da "africana", argumentando que a tal obrigava o intenso comércio com o Magrebe, bem como os manuscritos dos tempos árabes na Península, sobretudo das épocas dos impérios berberes (Almorávidas e Almôadas). Além das recorrentes explicações, o autor agrega mesmo um quadro comparativo das formas manuscritas "levantinas" e "africanas".
Apesar de algumas limitações, devidas mais à linguagem da época e sobretudo à terminologia, que por vezes é completamente opaca, parece-me um documento muito importante na História dos estudos árabes em Portugal.
Deixo um cheirinho das considerações iniciais, que bem se poderiam aplicar ao Latim:
A Utilidade da Lingua Arabiga, que n'outro tempo foi muito conhecida neste Reyno, e que agora pelas luzes do nosso Ministerio se acha felizmente promovida, he o que me obrigou a composição desta Arte, que me resolvi dar á luz pública. Eu não gastaria o meu tempo com este trabalho, se me deixasse preoccupar dos gritos da ignorancia, que com escandalo da razão se atreve a dizer, que esta Lingua he inutil. Bastará conhecer o excesso, com que ella se distingue entre as outras, para se fazer estimavel por todos aquelles, que aspiram a conseguir conhecimentos vastos, e uteis.
Um dos aspectos mais interessantes destas Instituições é a separação que fazem entre "árabes" e "mouros", que vai ao pormenor - importantíssimo para nós, "andaluzes" - de distinguir a escrita "levantina" (isto é: a escrita padrão) da "africana", argumentando que a tal obrigava o intenso comércio com o Magrebe, bem como os manuscritos dos tempos árabes na Península, sobretudo das épocas dos impérios berberes (Almorávidas e Almôadas). Além das recorrentes explicações, o autor agrega mesmo um quadro comparativo das formas manuscritas "levantinas" e "africanas".
Apesar de algumas limitações, devidas mais à linguagem da época e sobretudo à terminologia, que por vezes é completamente opaca, parece-me um documento muito importante na História dos estudos árabes em Portugal.
Deixo um cheirinho das considerações iniciais, que bem se poderiam aplicar ao Latim:
A Utilidade da Lingua Arabiga, que n'outro tempo foi muito conhecida neste Reyno, e que agora pelas luzes do nosso Ministerio se acha felizmente promovida, he o que me obrigou a composição desta Arte, que me resolvi dar á luz pública. Eu não gastaria o meu tempo com este trabalho, se me deixasse preoccupar dos gritos da ignorancia, que com escandalo da razão se atreve a dizer, que esta Lingua he inutil. Bastará conhecer o excesso, com que ella se distingue entre as outras, para se fazer estimavel por todos aquelles, que aspiram a conseguir conhecimentos vastos, e uteis.
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