Confesso, não sou grande apreciador do humor dos Gato Fedorento. Ainda que constantemente comparados aos Monty Python (que, como toda a gente sabe, são deuses), continuo sem estar muito convencido. Vem isto a propósito de um livro que reúne crónicas do Ricardo Araújo Pereira, recentemente lançado. O Ricardo é, apesar de nem sempre lhe achar muita graça, uma das pessoas mais interessantes do panorama mediático português, e reconheço no seu humor qualidade e exigência. Mas nem sempre lhe acho graça, pronto.
Ora na capa do dito livro vemos o Ricardo, com uma coroa à maneira clássica, e em baixo, à esquerda, uma brincadeira, um piscar de olhos ao António Lobo Antunes, que tem estado a lançar edições "ne varietur" (*) das suas obras. Tudo bem, até aqui não há problema. O pior é que a seguir diz "nisi ego reperio melior jocus". A frase é agramatical, logo para começar: "melior iocus" é, entende-se, o complemento directo de "reperio", teria de estar em acusativo, e parece-me que o plural seria o mais desejável. A utilização de um presente do indicativo ali, não sendo errada, não é a mais correcta, a não ser que o RAP queira dizer que encontrará mesmo piadas melhors. Por prudência pedia-se ali um conjuntivo. Portanto, e para a coisa bater certo, eu aconselhava a seguinte redacção: "nisi reperiam meliores iocos". No entanto, vale a intenção, e convenhamos, não é uma graçola fácil, e isso é de já de aplaudir.
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Ora na capa do dito livro vemos o Ricardo, com uma coroa à maneira clássica, e em baixo, à esquerda, uma brincadeira, um piscar de olhos ao António Lobo Antunes, que tem estado a lançar edições "ne varietur" (*) das suas obras. Tudo bem, até aqui não há problema. O pior é que a seguir diz "nisi ego reperio melior jocus". A frase é agramatical, logo para começar: "melior iocus" é, entende-se, o complemento directo de "reperio", teria de estar em acusativo, e parece-me que o plural seria o mais desejável. A utilização de um presente do indicativo ali, não sendo errada, não é a mais correcta, a não ser que o RAP queira dizer que encontrará mesmo piadas melhors. Por prudência pedia-se ali um conjuntivo. Portanto, e para a coisa bater certo, eu aconselhava a seguinte redacção: "nisi reperiam meliores iocos". No entanto, vale a intenção, e convenhamos, não é uma graçola fácil, e isso é de já de aplaudir.
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(*) "Reedição de uma obra para estabelecimento definitivo do texto em vida do autor, que autoriza essa versão final. Também se diz da reedição de um texto que não sofre alterações em relação a edições anteriores. A edição crítica de O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, preparada por Carlos Reis e Maria do Rosário Cunha, compara as versões de 1876 e 1880 (esta na sua terceira edição, de 1889). Os editores críticos consideraram que a versão de 1875, uma versão não autorizada pelo autor, não deve ser considerado canónico, e que a edição de 1889 apresenta variantes estilísticas significativas relativamente à de 1880 e que, por isso mesmo, deve ser considerada a edição ne varietur, já assim classificada por Guerra da Cal. Esta edição não terá sido corrigida por Eça, mas foi a última por ele autorizada."
Definição obtida aqui.
Definição obtida aqui.
4 comentários:
Por acaso, já tinha visto e torci o nariz.
"O Latim faz mauita falta!"
O RAP anda na FCSH da UN. E isso explica os seus erros de latim... Hehehe.
Já agora uma curiosidade: o Ricardo A.P. usa um livro verde da colecção LOEB num sketch (que agora não me lebro qual é).
Creio que o próprio Eça terá dito, a respeito da versão que não autorizara, qualquer coisa como «enviei-vos o borrão de um romance e vós publicastes o borrão». Parece que ficou furioso...
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