Carlos Costa, aluno da FLUL, fez-me chegar este texto, que dá conta da edição electrónica de uma tradução portuguesa da Batracomiomaquia, tradicionalmente atribuída a Homero.
«Batracomiomaquia, tradução de António Maria do Couto
Foi reeditada uma tradução de 1835 da
Batracomiomaquia, agora disponível na
Bibliotrónica Portuguesa. Conhecem-se os Poemas Homéricos, Homero é conhecido como o autor da
Ilíada e da
Odisseia, mas se eu falar da
Batracomiomaquia ou do já desaparecido
Margites (ainda restam uns escassos fragmentos do texto) certamente me hão-de perguntar o que são.
O que é a Batracomiomaquia? É uma antiga paródia grega, a paródia da Ilíada, provavelmente o testemunho mais antigo que se conhece do género literário a que pertence, imitando o estilo e as fórmulas homéricas, publicada aproximadamente no século V ou IV a C. Narra uma guerra entre as rãs dum lago e os ratos da vizinhança, os ratos julgam que Physignato, o rei das rãs, afogou Psicarpax, o filho do rei dos ratos, propositadamente. No princípio os Deuses procuram ficar neutros ao conflito, mas depois Zeus acaba por intervir a favor das rãs e envia um exército de caranguejos para impedir os ratos.
Eu não acredito que a Batracomiomaquia tenha sido elaborada por Homero, se é que Homero realmente existiu. Considerando a data da primeira publicação da Ilíada e da Odisseia, nos séculos VIII e VI a C. respectivamente, Homero teria podido viver assim tanto tempo? Teria conseguido escrever dois poemas épicos extensos e ainda uma paródia? Como considerar a hipótese de, quatrocentos anos depois de a Ilíada se afirmar, a Batracomiomaquia ter sido escrita por Homero? A tese de Plutarco parece mais verosímil: Pigres de Halicarnasso é que é o autor.
À falta de provas mais concretas nunca se saberá quem é o autor; se Homero não foi de certeza, eu não posso afirmar com todas as letras que Pigres de Halicarnasso é que deve ser considerado o autor. A Batracomiomaquia é um texto apócrifo, assim como o Margites, ambos parodiam os valores homéricos.
O projecto da Bibliotrónica Portuguesa nasceu no âmbito dos trabalhos lectivos da disciplina de Introdução à Crítica Textual e visa a constituição de uma biblioteca de livrónicos em língua portuguesa, com os seguintes princípios:
■ todos os exemplares serão preparados e apresentados com critérios e normas que assegurem a qualidade da edição;
■ a selecção dos livros a publicar em formato electrónico deverá encontrar justificação no interesse dos leitores;
■ a publicação electrónica não ofenderá os direitos de autor, tal como estão legalmente estabelecidos;
■ todos os livros serão em língua portuguesa.
Os livrónicos que inauguram a Bibliotrónica foram elaborados pelos primeiros alunos da disciplina de Introdução à Crítica Textual, durante o semestre da Primavera de 2007. Os critérios e as normas de edição foram definidos caso a caso e explicam-se na nota editorial. É certo, no entanto, que, coincidindo os objectivos das edições publicadas com os da edição diplomática, os princípios e as normas deste tipo de edição constituíram naturalmente o ponto de partida. Duas preocupações orientaram também a elaboração de todos os livrónicos agora publicados: facilitar o mais possível a navegação dentro do livro, mediante hiperligações, e proporcionar uma experiência de leitura agradável ao leitor. Procurou-se, por esta última razão, organizar o espaço de leitura de forma a que não implicasse um excessivo afastamento dos hábitos de leitura em papel e a que não favorecesse o cansaço.
A possibilidade de corrigir e melhorar continuamente os textos publicados em formato electrónico, sendo um bem, reduz a confiança que é possível depositar nas citações dos mesmos. Para obviar a este problema, todos os livrónicos serão aqui publicados com a indicação do mês e do ano, seguida de um número de versão (por exemplo: Outubro 2007 / 1). Os leitores de eventuais citações poderão assim saber se a versão citada é ainda a mesma que está on-line.
Na secção "Sítios com livrónicos", encontra-se uma lista de lugares na Internet onde é possível encontrar livrónicos em língua portuguesa, francesa, italiana e espanhola. No futuro, será criada uma secção com um índice de livrónicos em língua portuguesa disponíveis na Internet.»